Venda da RLAM vai gerar monopólio privado e aumento ainda maior dos preços dos combustíveis
dezembro 4, 2020 | Categoria: Notícia
Em comunicado na noite da quinta-feira (3), a direção da Petrobrás informou que concluiu a fase de negociação com o grupo Mubadala para a venda da Refinaria Landulpho Alves, a segunda maior refinaria do país, localizada no Município de São Francisco do Conde, na Bahia. Anunciou ainda que o processo está, atualmente, em fase de novas rodadas de propostas vinculantes, solicitando aos outros interessados que apresentem suas ofertas finais até janeiro de 2021.
Junto com a RLAM estão sendo entregues 669 quilômetros de oleodutos, que ligam a refinaria ao Complexo Petroquímico de Camaçari e ao Terminal de Madre de Deus, que também está sendo vendido no pacote que inclui ainda outros três terminais da Bahia (Candeias, Jequié e Itabuna).
Com mais esse passo dado pela atual gestão da estatal mirando a privatização do Sistema Petrobrás, se desenha um quadro de grandes perdas não só para o Nordeste, mas para o Brasil. Na contramão de grandes petrolíferas, a Petrobrás se apequena abrindo espaço e incentivando a criação de um oligopólio nacional e monopólios regionais privados e sem competitividade como aponta um estudo da PUC Rio, que analisou os efeitos da privatização de seis das oito refinarias colocadas à venda pela direção da Petrobras: Refap (RS), Repar (PR), Regap (MG), RLAM (BA), RNEST (PE) e Reman (AM).
A RLAM, de acordo com os pesquisadores, é uma das refinarias da estatal que tem potencial mais elevado para formação de monopólios regionais, o que pode aumentar ainda mais os preços da gasolina, diesel e gás de cozinha, além do risco de desabastecimento, o que deixará o consumidor inseguro e refém de uma empresa privada.
O coordenador da FUP, Deyvid Bacelar, que é funcionário da RLAM, ressalta a importância e o papel estratégico dessa refinaria na cadeia produtiva da Petrobrás. “A RLAM é responsável pela produção de 30% de todo óleo combustível e óleo bunker que está sendo exportado pela estatal e vem desempenhando um papel crucial para garantir a flexibilidade e resiliência da Petrobrás nesse momento conturbado”.
O óleo combustível para navios (bunker) com baixo teor de enxofre, atendendo exigência da Organização Marítima Internacional (IMO, sigla em inglês), é um combustível que tem sido bastante demandado no mercado internacional. As exportações de bunker amenizaram os resultados financeiros ruins da Petrobrás nos três primeiros trimestres do ano.
Para Bacelar é um crime o que a atual gestão da Petrobrás está tentando fazer com a população brasileira. “Ao contrário do que Guedes e Castello Branco dizem, não haverá redução nos preços dos combustíveis e do gás de cozinha. Não é de hoje que a FUP vem alertando para as consequências desastrosas para o país se as vendas dessas refinarias forem concretizadas. Esperamos que a população acorde para a necessidade de defender a Petrobrás e lutar contra a sua privatização porque o outro caminho é deixar o carro na garagem e voltar a cozinhar à lenha”.
É importante ressaltar que, apesar do monopólio estatal do petróleo ter sido quebrado em 1997, no governo de FHC, nenhuma empresa privada teve interesse de construir uma grande refinaria no Brasil. “Visando apenas o lucro, elas estão tendo agora a grande oportunidade dada por Bolsonaro/Guedes de “abocanhar” o patrimônio do povo brasileiro, recebendo estruturas que foram construídas durante anos com o dinheiro público”, afirma o coordenador do Sindipetro Bahia, Jairo Batista.
O acelerado processo de privatização aos pedaços, com desintegração do Sistema Petrobrás, vem sendo denunciado e combatido pela FUP e o Sindipetro Bahia desde 2015, seja através de greves ou de ações jurídicas e políticas, como a recente luta junto ao STF para barrar a venda de ativos sem autorização legislativa. Somam-se a isso as frentes de lutas articuladas pela FUP e Sindipetro Bahia, envolvendo diversos setores da sociedade, como a campanha Petrobrás Fica, na tentativa de mobilizar a população em torno da importância da estatal para os estados e municípios do país.
Além da RLAM, outras duas unidades de refino da Petrobrás estão em processo adiantado de privatização. No comunicado feito ao mercado, a empresa ressaltou que já recebeu propostas referentes à Refinaria Lubrificantes e Derivados do Nordeste (LUBNOR), no Ceará e à Unidade de Industrialização do Xisto (SIX), no Paraná. São as três primeiras da lista de oito refinarias colocadas à venda pela gestão do governo Bolsonaro.
As outras refinarias que também foram colocadas à venda são: Abreu e Lima (RNEST), em Pernambuco; Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Paraná; Alberto Pasqualini (Refap), no Rio Grande do Sul; Gabriel Passos (Regap), em Minas Gerais; e Isaac Sabbá (Reman), no Amazonas.
Sob Bolsonaro, o Brasil segue em disparada rumo à dependência energética internacional e à quebra de sua soberania.
Fonte – Imprensa Sindipetro Bahia
Foto – Humberto Guanais