Setembro Amarelo: “A vida é a Melhor Escolha”
setembro 10, 2022 | Categoria: Notícia
Uma mão amiga, um olhar mais cuidadoso para o outro, a empatia e a disposição para escutar sem julgamentos podem fazer toda a diferença para uma pessoa que esteja passando por depressão ou sofrimento mental. Não só em setembro, instituído o mês de prevenção ao suicídio, mas durante todo o ano.
Mas, principalmente, é preciso buscar ajuda médica, pois o tratamento é determinante para o afastamento das ideias suicidas. De acordo com psiquiatras, mais de 90% das tentativas de suicídio estão relacionadas com algum transtorno mental não tratado (depressão, ansiedade, transtorno bipolar, esquizofrenia, uso de substâncias).
Segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgado em junho deste ano, o número de casos de transtornos de ansiedade aumentou 25,6% e os de depressão 27,6% em 2020 no mundo.
Para a psicóloga, Iana Aguiar, “infelizmente os impactos causados pela pandemia, contribuíram para o adoecimento psíquico da população”. Mas ela ressalta que “tal adoecimento não é proveniente apenas de questões relacionadas à saúde, afinal os impactos sociais como isolamento, desemprego, aumento do custo de vida também tiveram influência nas pessoas”.
Mas mesmo antes da pandemia da Covid-19, o quadro já era desalentador, principalmente em relação ao acesso das pessoas a cuidados de saúde mental eficientes.
De acordo com a OMS, 71% das pessoas com psicose em todo o mundo não acessam serviços de saúde mental, sendo que em países de alta renda, 70% delas são tratadas, mas em países mais pobres, somente 12%. A Organização aponta ainda que apenas um terço das pessoas com depressão recebe cuidados formais de saúde mental.
Ainda de acordo com relatório da OMS, o suicídio, no ano de 2019, foi responsável por mais de uma em cada 100 mortes, sendo que 58% ocorreram antes dos 50 anos de idade, e quase um bilhão de pessoas – incluindo 14% dos adolescentes do mundo – viviam com um transtorno mental.
No Brasil, segundo o DataSUS, a situação é ainda pior, pois ao contrário de boa parte de outros países, em terras brasileiras o número de suicídios aumentou. Nos últimos 20 anos os suicídios subiram de 7 mil para 14 mil, mais de um a cada hora.
Prevenção e ajuda
A campanha Setembro Amarelo, que tem o objetivo de prevenir e reduzir os casos de suicídio, cujo tema em 2022 é “A vida é a Melhor Escolha”, acontece durante todo o mês, apesar de ter sido instituído o 10/09 como Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio.
O tema suicídio, segundo os especialistas da área médica, deve ser abordado, pois trata-se de um problema de saúde pública e requer informações para que seja possível trabalhar a sua prevenção, evitando que o pensamento suicida se concretize. Porém, a prevenção envolve não só os profissionais de saúde, mas também familiares, amigos, colegas de trabalho, educadores, líderes religiosos e governos.
Iana Aguiar que também é tesoureira do SinPsi Bahia e faz parte do secretariado juventude da CUT Bahia, lamenta que desde 2016, os recursos para as políticas públicas de assistência social e saúde vêm sendo reduzidos devido ao teto de gastos. “É necessário que tenha mais recursos destinados a tais políticas”, afirma.
Em sua página na internet (www.abp.org.br), a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) fala sobre a necessidade de orientar para conscientizar e consequentemente prevenir. “A morte por suicídio é uma emergência médica e pode ser evitada através do tratamento adequado do transtorno mental de base”, explica o presidente da Associação, Dr. Antônio Geraldo da Silva, no site da ABP.
O CVV – Centro de Valorização da Vida – ong que atua no apoio emocional e na prevenção do suicídio há 60 anos, acredita ser a educação a primeira medida preventiva nestes casos. Em sua página na internet (https://www.setembroamarelo.org.br/prevencao/), a ong ressalta o sucesso da campanha Setembro Amarelo e comemora que “esta barreira (a do tabu) foi derrubada e informações ligadas ao tema passaram a ser compartilhadas, possibilitando que as pessoas possam ter acesso a recursos de prevenção”.
Para conversar com um voluntário do CVV, basta ligar para o telefone 188, gratuito, que funciona 24 horas. Também é possível mandar um e-mail ou falar pelo chat, que podem ser acessados pelo site www.cvv.org.br.
Quando o trabalho mata
No dia 20/09/2020, um petroleiro tirou a própria vida nas dependências da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), na Bahia. Na época, em atendimento à denúncia formulada pelo Sindipetro-BA, o Cesat (Centro Estadual de Referência em Saúde do Trabalhador) e a Auditoria Fiscal do Trabalho realizaram uma minuciosa investigação apontando que “as mudanças no contexto laboral da RLAM /Petrobras tiveram contribuição decisiva para o sofrimento psíquico do trabalhador, seguido de ideação suicida com desfecho fatal”.
Os relatórios dizem que “o suicídio decorreu de uma doença mental desencadeada em função das condições em que o trabalho era realizado. A inexistência de ações que pudessem mitigar eventos relacionados ao sofrimento mental, no período, concorreu para o não afastamento do trabalhador da atividade laboral”, que permaneceu em atividade “ainda que com sinais evidentes de um quadro de transtorno mental em curso”.
Os técnicos e auditores apontaram a necessidade da “implantação de medidas de melhorias da organização do trabalho, das condições de saúde e segurança no trabalho e de adequação do quadro profissional do SESMT, com inclusão de profissional da área de saúde mental, a fim de evitar a ocorrência de novos casos de suicídio no trabalho nas dependências da RLAM”.
Os órgãos também autuaram a refinaria, lavrando seis autos de infração.
O que mudou na RLAM?
A privatização da RLAM acarretou uma grande mudança na vida de seus empregados, muitos foram transferidos para outros estados, outros decidiram se aposentar e poucos conseguiram permanecer na Bahia, trabalhando em outras unidades da Petrobrás.
Na RLAM, ainda há funcionários da Petrobrás que estão em fase de transição. Estes estão recorrendo ao Mobiliza, programa oferecido pela empresa e que trata sobre as regras e tudo o que estiver relacionado às transferências para outros estados.
Na época, o Sindipetro Bahia, a FUP e a CIPA da refinaria fizeram cobranças, inclusive em reuniões com o RH, para que a gerência da RLAM, atendesse de imediato as recomendações feitas pelo Cesat e por auditores do trabalho para prevenir o suicídio e o sofrimento mental no ambiente de trabalho. Atualmente, há na refinaria um setor de escuta, que vem funcionando durante o Mobiliza, com um grupo extra composto por assistentes sociais, que coletam os dados dos funcionários e os encaminham para uma equipe médica em caso de necessidade de tratamento para a saúde mental. Além de uma psicóloga e uma assistente social fixas.
Preocupados com o crescimento de afastamentos médicos por depressão ou problemas emocionais na Petrobrás, a FUP e o Sindipetro-BA continuam atentos aos fatores organizacionais no ambiente de trabalho, que contribuem muito para o desencadeamento do sofrimento psíquico e do suicídio. A prevenção, que passa pela escuta e pelo cuidado com o outro, precisa ser feita todos os dias do ano.
Onde buscar ajuda:
– Serviços de saúde: CAPS e Unidades Básicas de Saúde (Saúde da Família, Postos e Centros de Saúde)
– Centro de Valorização da Vida – CVV / Telefone: 188
– Emergências: SAMU 192, UPA, Pronto Socorro e Hospitais.
Fonte – Imprensa Sindipetro Bahia