Presidente da ANAPETRO explica importância da Associação criada por petroleiros acionistas da Petrobras
junho 23, 2020 | Categoria: Notícia
Em assembleia virtual realizada no dia 15 de junho, trabalhadores do Sistema Petrobrás das bases da FUP que são acionistas minoritários da empresa aprovaram a criação da ANAPETRO, Associação Nacional dos Petroleiros Acionistas Minoritários da Petrobrás. A entidade será mais um instrumento de luta da categoria contra a política agressiva de privatização dos ativos da empresa. “A construção da associação não é nova, mas foi concretizada pela conjuntura atual, diante da necessidade de se questionar os desmandos da gestão da Petrobrás em outros fóruns como CVM, Bolsa de Valores, CADE e TCU”, explica Mário Alberto Dal Zot, que foi eleito o primeiro presidente da ANAPETRO.
Mário é também diretor do Sindipetro-PR/SC, que, junto com outros sindicatos da FUP, impulsionou a criação da Associação, com a missão de “questionar e responsabilizar a gestão da Petrobrás, que vem se demonstrando contra os interesses nacionais, com visão de curto prazo, entregando o patrimônio público”, como detalha o petroleiro na entrevista concedida ao Escritório de Advocacia Garcez.
Sindicatos da FUP representados pela Garcez denunciaram recentemente a diretoria da Petrobrás junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por realizar uma gestão temerária através da política de desverticalização, que está desintegrando o Sistema Petrobras e fragilizando a empresa.
O presidente da ANAPETRO convoca todos os petroleiros a fortalecer a Associação. “Precisamos ter legitimidade, o que se dará pela participação daqueles que também acreditem nessa ideia, se associando, contribuindo, debatendo e ajudando a construir ações para enfrentarmos todos esses ataques que a Petrobrás, seus trabalhadores, e a sociedade de maneira geral vêm sofrendo”, afirma Mário Dal Zot. Petroleiros de todo o Brasil podem se associar à ANAPETRO, desde que tenham ações da Petrobrás.
Leia a íntegra da entrevista:
Advocacia Garcez – Mário, em primeiro lugar, é um prazer para nós falar com você nesse momento, na figura de primeiro Presidente recém-eleito da ANAPETRO. Você poderia nos falar como se deu a ideia de construir esta associação?
O prazer é meu em falar com vocês, que sempre demonstraram o compromisso de defender a soberania do povo brasileiro. Quero dizer que me sinto muito honrado em ter sido eleito o primeiro Presidente da ANAPETRO. A construção da associação não é nova, mas foi concretizada pela conjuntura atual, diante da necessidade de se questionar os desmandos da gestão da Petrobrás em outros fóruns como CVM, Bolsa de Valores, CADE e TCU. Nós, petroleiros, diferente da maioria dos trabalhadores, temos o orgulho e o compromisso em defender a Petrobrás e tudo o que ela significa para o desenvolvimento econômico, social e tecnológico do país. Esperamos, e vamos trabalhar para isso, que essa associação seja mais um ator nessa luta. Que propicie, para nossas assessorias tanto econômicas quanto jurídicas, um instrumento a mais para enfrentarmos o desmonte que estão tentando fazer com a Petrobrás e suas subsidiárias, diminuindo a sua importância histórica para o povo brasileiro.
A Petrobrás tem tido atualmente uma política agressiva de privatização de seus ativos, como Refinarias, Campos Terrestres e Fábricas de Fertilizantes. Em que medida acredita que a ANAPETRO poderá atuar nestes processos em sua atuação em defesa da Petrobrás?
A ANAPETRO foi criada com esse objetivo: questionar e responsabilizar a gestão da Petrobrás, que vem se demonstrando contra os interesses nacionais, com visão de curto prazo, entregando o patrimônio público. Os gestores agem contra os interesses da empresa, privilegiando importadores com a redução das cargas de refinarias, o que diminui sua produtividade; deixam de investir em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias; tomam medidas contra o futuro da empresa, como a saída do mercado de fertilizantes derivados do petróleo e do setor de biocombustíveis e de energias alternativas/renováveis, dedicando-se apenas à exportação de óleo cru, como se isso não fosse um bem finito; vendem ativos que agregam valor a seus produtos, entre outras. Ou seja, a visão imediatista da gestão está condenando a empresa, orgulho do povo brasileiro por tudo que representa, à extinção em pouco tempo. Aqui entra a atuação da ANAPETRO, para defender a Petrobrás desses desmandos, fazendo com que a empresa seja forte e tenha a capacidade de alavancar o desenvolvimento nacional.
Recentemente, os SINDIPETROS do RS, PR/SC, MG, SP Unificado, ES, BA, PE-PB e RN denunciaram na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a política de desverticalização que a Petrobrás realiza como uma gestão temerária, por tornar a companhia extremamente frágil em conjunturas adversas, o que se mostrou recentemente na pandemia do coronavírus. Acredita que em ações similares, a ANAPETRO teria capacidade de mostrar que a defesa da Petrobrás não se limita à defesa de seus trabalhadores, mas de seus acionistas e da sociedade brasileira como um todo?
Sim, acredito. Defender a Petrobrás é defender o Brasil, defender os interesses da sociedade brasileira. A gestão da Petrobrás vem centralizando suas decisões, esquecendo-se que o Brasil é imenso, possuindo particularidades regionais que devem ser levadas em conta. O exemplo mais claro é esse: durante a pandemia, a gestão atua de forma centralizada, adotando as mesmas medidas em todas as regiões, mesmo sabendo dessas diferenças. Além disso, é oportunista e irresponsável ao adotar medidas de resiliência à revelia dos trabalhadores e seus representantes, esquecendo-se que atua em serviço essencial para o país. Nesse momento triste para todos nós, a Petrobrás deveria ter outra postura em prol do país, como, por exemplo, uma política de preços dos combustíveis mais benéfica ao povo, em especial o gás de cozinha
No mês de maio de 2020, foi notificada uma grande monta de verbas de publicidade da Petrobrás para sites de Fake News e propagadores de discursos anti-democráticos. Neste sentido, os SINDIPETROS do RS, PR/SC, MG, SP Unificado, ES, BA, PE/PB e RN realizaram denúncia no Tribunal de Contas da União (TCU) para que esta prática seja imediatamente interrompida. Como a ANAPETRO pretende fiscalizar o eventual uso indevido de recursos pela diretoria da Petrobrás?
Pretendemos fiscalizar e denunciar toda e qualquer medida contrária ao interesse da companhia em todos os fóruns. Principalmente, aquelas que atentem contra os princípios da administração pública, como a malversação de recursos públicos e a improbidade administrativa. É o que acontece no caso da pergunta, e em outros casos absurdos, como aquele acordo com acionistas americanos através da lava-jato como coisa que só acionistas americanos tiveram prejuízo, além do caso do alegado prejuízo para fechar a Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados em Araucária-PR, prejuízo fabricado, apenas contábil, demonstrando total irresponsabilidade social de seus gestores, entre outras arbitrariedades.
Quais suas perspectivas para a Petrobrás num cenário de grave crise econômica provocada pela pandemia do coronavírus e quais você acredita serão as principais bandeiras levantadas pela ANAPETRO?
Temos noção dos impactos negativos para a economia e para a sociedade, ou melhor, para a humanidade. As empresas, assim como todas as pessoas, devem agir com cautela, com responsabilidade, buscando mitigar esses impactos. No caso da Petrobrás, ela deve se preocupar com o futuro, protegendo tanto seus ativos quanto o conhecimento tecnológico de seus trabalhadores, mantendo-se com gás para estar preparada para a retomada após a pandemia, e não da forma que está atuando, reduzindo sua capacidade e importância para essa retomada. Essa será a nossa principal bandeira, neste momento: evitar o desmantelamento da empresa, buscando a suspensão de todo processo de venda de ativos que ela vem preconizando.
Por fim, fique à vontade para deixar algum recado para a categoria petroleira e sobre a importância de se associarem à ANAPETRO.
Gostaria de dizer que acreditamos muito na ANAPETRO e nos objetivos e propósitos para os quais ela foi criada. Para atingir isso, precisamos ter legitimidade, o que se dará pela participação daqueles que também acreditem nessa ideia, se associando, contribuindo, debatendo e ajudando a construir ações para enfrentarmos todos esses ataques que a Petrobrás, seus trabalhadores, e a sociedade de maneira geral vêm sofrendo.
Fonte – FUP [Com informações da Advocacia Garcez]
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