O mundo do trabalho, lutas de classe, raça e gênero foram temas abordados no segundo dia do XI congresso dos petroleiros da Bahia
abril 6, 2022 | Categoria: Notícia, XI congresso
{Da imprensa do Sindipetro Bahia}
Debates, análise e aprovação de teses marcaram o segundo dia do XI Congresso dos Petroleiros e Petroleiras da Bahia, aberto, às 13h30, com a leitura e aprovação do regimento interno, que estabeleceu regras para o evento que acontece até o sábado (9), através da plataforma de videoconferência ZOOM e do canal do Sindipetro no Youtube, onde estão sendo transmitidas palestras com assuntos de interesse geral.
As teses do grupo 1, que abordam temas relacionados ao sindicalismo e organização sindical foram analisadas pelos congressistas e aprovados planos de ações, de pesquisa e formação que devem ser colocados em prática, assim como a mobilização da categoria e da sociedade contra a privatização da Petrobrás e pela permanência da estatal na Bahia.
No final do congresso, o sindicato irá divulgar todas as resoluções aprovadas e que serão encaminhadas ao X Plenafup para serem discutidas e remetidas para a pauta de reivindicações que será entregue à direção da Petrobrás.
Houve ainda a realização de dois painéis de debates que geraram muitas perguntas e discussões sobre os temas abordados. Veja abaixo:
Mundo do trabalho
O primeiro painel de discussões abordou o tema “O mundo do trabalho e suas transformações – As Lutas da Classe trabalhadora”, com a Supervisora Técnica do DIEESE, Ana Georgina Dias.
A supervisora fez um paralelo entre os dias atuais, a revolução industrial e o ideário liberal para falar do momento atual no mundo do trabalho. “É como se estivéssemos de volta àquele momento lá atrás, quando foi lançada a ideia de que o trabalhador é livre para vender a força de trabalho da forma que quiser”. O resgate histórico foi feito para abordar a situação dos trabalhadores em aplicativo (motoristas de uber e outros aplicativos, motoentregadores, etc), “É uma nova modalidade de trabalho que através do avanço da tecnologia nos conduz, em termos de relação de trabalho, quase àquelas relações que existiam no inicio da revolução industrial, até na ideia de potência muito maior do que se tem no plano da realidade”.
Para Georgina, “não é à toa que essas mudanças venham acontecendo ao longo do tempo, sobretudo a partir da revolução industrial, o que nós percebemos é que, ciclicamente, o capitalismo precisa buscar novos meios de se reestruturar, como forma de solucionar suas crises”.
Ela explica que estamos vivenciando uma nova revolução que não só substitui as tarefas repetitivas – muitas vezes executadas por pessoas com pouca qualificação – mas que tem o potencial de substituir, inclusive, ocupações e atividades com nível de decisão, através da inteligência artificial e dos algoritmos.
Georgina ressalta que as atividades financeiras têm se sobreposto às atividades produtivas. Hoje, teoricamente, os direitos são custos, diz a economista e isto pode ser observado através da reforma trabalhista que seria, segundo seus defensores, uma forma de gerar empregos. “Já temos quatro anos completos de reforma trabalhista e não verificamos aumento no número de postos de trabalho e muito menos observamos os trabalhadores melhorarem a sua situação de correlação de forças para o seu poder de barganha. Na realidade, aconteceu o contrário, o trabalhador ficou em uma posição ainda mais desigual”.
Gênero e Raça – A Justiça e a Mulher Negra
No segundo painel de debates a Procuradora Federal, Chiara Ramos, e a Promotora de Justiça, Livia Santana, abordaram o racismo estrutural, analisando como o racismo vem sendo construido no Brasil e como ele é ainda uma questão central, e não tangencial. Elas também falaram da necessidade de voltar o olhar para as lutas de gênero e de raça, e não só para as lutas de classe.
A promotora Livia Santana lembrou que o Brasil foi o último país do ocidente a abolir a escravidão em 13 de maio de 1888. “Para cada 10 anos de Brasil, sete anos foi sob o regime de escravização de corpos negros, portanto, 70% da nossa história. Mais de 40% dos 12 milhões de africanos chegados aos portos americanos desembarcaram no Brasil”, contou.
Ao abordar a interseccionalidade entre raça e genêro ela falou um pouco da história do Brasil, revelando que as mulheres negras escravizadas eram escolhidas tendo em vista a possibilidade de serem mais férteis, aquelas que tinham as “ancas mais largas e os seios mais fartos” eram destacdas para reproduzir e sofriam estupro colonial diuturnamente, e quando pariam eram separadas de seus filhos que eram vendidos com 5 ou 6 meses de idade e ainda eram obrigadas a amamentar os filhos das pessoas brancas como amas de leite. “Isto nos mostra a intersecção de raça e genero”.
A interseccionalidade, continua a promotora, “é uma categoria analítica que nos explica que não se pode analisar o mundo em sua complexidade apenas por uma vertente. Eu não vou analisar só raça ou só classe, não vou analisar só gênero, temos que comporeender que estes fatores se entrecruzam, se combinam, criando vulnerabilidades muito peculiares”.
Para Chiara Ramos, “o racismo está na estrutura da sociedade, as instituições que são criadas reproduzem este racismo da mesma forma que as pessoas nas suas interrelações vão reproduzir o racismo”.
Ramos acredita que só é possível fazer construções na crise vivida hoje no Brasil através de soluções que passem necessariamente por assumir essa conta histórica, não apenas como uma reparação, “nós somos potência, somos solução criativa, dê espaço para uma mulher negra e veja o que ela faz com o minimo que se dá”.
Para ela, o racismo impede o Brasil de avançar economicamente. “O racismo é um problema econômico-financeiro para o Brasil, se homens e mulheres negros (as) fossem remunerados da mesma que forma que homens e mulheres brancos (as) nós teríamos aumento no PIB, aumento de circulação de recursos, de movimentação da economia, que impactaria em toda a estrutura. Temos que ver a quem realmente serve esta estrutura racial e machista”, indaga.
Ramos quer soluções politicas e ações afirmativas que, segundo ela “não se resumem a cotas, elas são um conjunto de ações que devem ser realizadas e promovidas para que haja efetivamente a inclusão de pessoas diversas nos ambientes corporativos e institucionais. E estas ações afirmativas devem andar lado a lado com a educação corporativa continuada e antirracista”.