Greve dos petroleiros na ditadura militar abriu caminho para redemocratização
abril 1, 2020 | Categoria: Notícia
Em 05 de julho de 1983, os petroleiros da Refinaria de Paulínia (Replan/SP) iniciaram uma das mais importantes greves da categoria, que logo em seguida teve a adesão dos trabalhadores da Refinaria Landulpho Alves (Rlam/BA). Foram sete dias de enfretamento, em um movimento essencialmente político contra a ditadura, cujo estopim foi um decreto do general João Batista Figueiredo, para cortar direitos dos trabalhadores de estatais e reduzir efetivos.
Os militares ocuparam as refinarias, fizeram intervenções nos sindicatos, cassaram seus dirigentes e demitiram 358 petroleiros. Dez dias depois, em 21 de julho de 1983, cerca de três milhões de trabalhadores das mais diversas categorias cruzaram os braços na primeira greve geral da ditadura militar.
Em agosto do mesmo ano, a CUT foi fundada, tendo como principais eixos de luta o fim da ditadura, a revogação da Lei de Segurança Nacional e a garantia de liberdade e autonomia sindical.
434 mortos e desaparecidos
Em 2012, o governo Dilma Rousseff instalou a Comissão Nacional da Verdade (CNV), que durante dois anos e meio recolheu depoimentos e levantou uma série de dados sobre os crimes da ditadura.
As investigações resultaram em um relatório com mais de quatro mil páginas, onde foram listados 434 mortos e desaparecidos, bem como as circunstâncias e autoria dos crimes.
A Comissão responsabilizou 377 pessoas pelas mortes, torturas e demais violações aos direitos humanos, entre eles agentes das Forças Armadas, empresários e ex-ditadores.
“Um golpe de classe”
Além de assassinatos e torturas, a ditadura militar violou direitos dos trabalhadores, arrochou os salários, acabou com a estabilidade no emprego e impôs uma lei antigreve.
“Os trabalhadores foram o objeto principal do golpe, que foi um golpe de classe. Um golpe contra uma ‘República Sindical´. Não era a questão comunista a principal, mas dar um golpe contra a causa dos trabalhadores. Isso tinha muito a ver com o Estado que eles queriam construir naquele momento. A repressão se abateu, principalmente, sobre a classe trabalhadora”, afirmou a jurista Rosa Cardoso, que coordenou a Comissão da Verdade.
Caixa dois dos empresários financiou o golpe e a repressão
A Comissão da Verdade comprovou a participação de diversos empresários no golpe de 1964 e na sustentação da ditadura militar.
O Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES) e o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD) foram os instrumentos de financiamento utilizados por eles.
Em depoimento à Comissão, Paulo Egydio Martins, governador “biônico” de São Paulo entre 1975 e 1979, afirmou que os empresários usavam dinheiro de caixa dois nas doações que faziam a estes institutos.
Alguns empresários participavam diretamente do esquema, subsidiando a estrutura de repressão da ditadura.
O mais famoso deles, Henning Boilesen, do grupo Ultra, que controlava a Ultragaz, ajudou pessoalmente os militares a importar instrumentos de tortura. Um dos aparatos chegou a ser batizado com o nome do empresário, que também assistiu sessões de tortura no DOI-CODI de São Paulo.
SNI tinha uma divisão dentro da Petrobrás
Durante a ditadura, as estatais foram comandadas por militares de alta patente, que implantaram nas empresas uma extensão do Serviço Nacional de Informações (SNI) para investigar os trabalhadores.
Na Petrobrás, o trabalho ficou a cargo da Divisão de Informações (DIVIN), responsável por identificar a “orientação política e social” dos petroleiros.
Em maio de 2013, a direção da empresa transferiu para o Arquivo Nacional uma série de documentos produzidos pelo DIVIN. O acervo reúne 426 rolos de microfilmes, com 131.277 fichas de controle dos trabalhadores que foram investigados pela ditadura.
Sindicatos à frente da redemocratização
Em maio de 1978, sob a liderança de Luiz Inácio Lula da Silva, a greve dos metalúrgicos da Scania, em São Bernardo do Campo, contestou a ditadura, iniciando uma série de revoltas operárias no ABC paulista.
O estádio de Vila Euclides foi palco e símbolo desse movimento, que iniciou o processo de redemocratização no país. Foi lá que Lula conduziu, em 13 de março de 1979, uma assembleia histórica, com 80 mil metalúrgicos.
Paralisações pipocaram por todo o país, desafiando a lei antigreve.
Em 1981, apesar da proibição dos generais, mais de cinco mil trabalhadores se reuniram em Praia Grande, no litoral paulista, para a Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat), que aprovou a construção da CUT.
Criada em 1983, a central foi fundamental nas mobilizações pela redemocratização, que desencadearam o movimento Diretas Já e a retomada das eleições para presidente da República.
> Entenda a importância da greve dos petroleiros em 1983:
Fonte: Federação Única dos Petroleiros
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