Espaços de poder da mulher e a luta contra o racismo e o fascismo foram destaques no I Encontro das Mulheres Petroleiras da Bahia, que prossegue nessa quarta (17)
junho 16, 2020 | Categoria: Notícia
O I Encontro de Mulheres Petroleiras da Bahia foi aberto na manhã dessa terça-feira (16), nas redes sociais do Sindipetro Bahia – facebook e Youtube, o que permitiu a participação de petroleiras e petroleiros de todo o país, assim como de trabalhadoras de outros setores.
“Em tempos de pandemia precisamos nos reinventar e dar continuidade à luta pela igualdade de direitos, contra o racismo, que está entranhado em nossa sociedade e contra o fascismo, que através do governo de extrema direita de Bolsonaro, quer tomar de assalto o nosso país”, afirmou a diretora do Setor de Gênero, Raça, Etnia e Juventude, do Sindipetro, Christiane Barroso, justificando a escolha de um encontro virtual para reunir as mulheres petroleiras.
O Coordenador Geral da FUP, Deyvid Bacelar, lembrou que não é fácil para as petroleiras conquistar seu espaço em uma indústria, onde 83% da força de trabalho é composta por homens. Ele também falou da masculinidade tóxica e da importância de “evoluir a cada dia, construindo e desenvolvendo uma masculinidade que não oprima. É necessário repensarmos a nossa masculinidade e isso deve ser feito desde a infância. Continuamos errando, falhando e temos de mudar”. Deyvid ressaltou ainda o compromisso da FUP em abrir cada vez mais espaço para as mulheres, ampliando a participação na diretoria da entidade e estimulando a auto organização.
Para o Coordenador Geral do Sindipetro Bahia, Jairo Batista, “sem as mulheres não há transformação e os homens precisam refletir sobre os seus privilégios. Os que estão no campo da esquerda, principalmente, precisam fazer a critica e a autocritica, aderindo à essa luta, mas entendendo que não são os protagonistas”. Para ele o machismo e o racismo são pilares de um estado segregador, que precisam ser derrubados”.
Para a diretora do Setor de Aposentados e Pensionistas do Sindipetro Bahia, Marise Sansão, “já tivemos muitas lutas, mas não tantas conquistas como deveríamos ter tido. Precisamos avançar muito nas questões de gênero”. Sansão lembrou o Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa, comemorado no dia 15 de junho, ressaltando a necessidade de maior proteção e cuidado desse segmento.
A necessidade desse avanço na luta foi abordado também pela diretora da FUP e do Sindipetro RN, Fátima Viana (Fafá), que fez uma retrospectiva sobre a história do Coletivo de Mulheres Petroleiras, ressaltando a luta por avanços nas condições de trabalho das petroleiras e a importância da criação do coletivo criado em 2012. Ela indagou o fato de ter sido negado, durante muito tempo, às mulheres petroleiras cargos de comando na Petrobrás e nos sindicatos. Ela lembrou de diversas conquistas do Coletivo, na época do governo Dilma, quando uma mulher presidia a Petrobrás. “Conseguimos ampliar a licença maternidade, estendendo essa licença a todo tipo de família que estivesse em processo de adoção”. Ela defende mais mulheres em cargos de comando em diversas instâncias, inclusive a sindical.
Mulheres antifascistas e antirracistas
A outra mesa de debate abordou dois grandes problemas que apesar de antigos, estão na ordem do dia: o racismo e o fascismo. O primeiro é estrutural e presente em todo o mundo, o outro vem, através de extremistas, tentando se instalar em países como o Brasil.
Para a pesquisadora, Mestre em Estado, Governo e Políticas Públicas, Fátima Fróes, as mulheres e as pessoas negras são as grandes vitimas do fascismo. Ela citou o exemplo do que acontece hoje no Brasil, onde há um pseudo- nacionalismo e a tentativa de criar um imaginário através da criação e divulgação de notícias falsas, as chamadas fake News. Uma das características marcantes do fascismo é eleger um inimigo comum, além do ataque ao tripé raça, classe e gênero. “Se encontra uma sociedade estruturalmente racista esse tipo de regime consegue avançar com maior rapidez” Para ela “nesses momentos de crise a autoritária fica claro que é o alvo”.
Na opinião da Diretora licenciada do Sindipetro NF, Pós graduada nos Estudos Históricos e Culturais da Diáspora Africana, Conceição de Maria, “o racismo e o fascismo são uma patologia e um constrangimento”. Ela defende que é preciso pensar na identidade do negro “Pensar o negro no Brasil é pensar também a religião de matriz africana, valorizar os quilombolas, os ribeirinhos e buscar a libertação da mulher negra”. Para Conceição é preciso colocar nos espaços de poder aqueles que nos representam, pois só assim vai haver leis que protejam e dêem oportunidade ao povo negro”.
Políticas públicas e o enfrentamento da violência
As palestras prosseguiram durante a tarde com uma boa participação e interação dos internautas. O debate girou em torno das políticas públicas e o enfrentamento da violência.
A advogada e presidenta da ONG TamoJuntas, Laína Crisóstomo, falou sobre o aumento da violência contra a mulher durante a pandemia. Ela afirmou que a partir do processo de isolamento devido à covid-19 as mulheres estão tendo dificuldade para acessar serviços essenciais, para dar queixa ou registrar uma agressão ou até mesmo para acessar métodos contraceptivos para evitar uma gravidez indesejáda. “Infelizmente, a casa nunca foi um espaço seguro para muitas mulheres. Estar em casa é mais um elemento de insegurança e de medo. De cada 10 mulheres assassinadas no Brasil, sete são mortas dentro de casa”.
Ela também falou da sobrecarga das mulheres durante a pandemia através do home office e das tarefas domésticas, muitas vezes sem nenhum tipo de divisão. “Hoje no Brasil quase 29 milhões de mulheres são chefe de família e quase 5 milhões de crianças não têm sequer o nome do pai no registro”.
Já para a Secretária de Políticas para as Mulheres do Estado da Bahia, Julieta Palmeira, é preciso compreender que a covid-19 atinge a todos, mas o impacto tem formas distintas. “As mulheres negras e as que estão em situação de vulnerabilidade social são mais atingidas do que aquelas que têm emprego e estão em suas casas”.
Para ela estamos vivendo duas pandemias diferentes – uma é a do vírus, a outra resulta do machismo e da dominação dos homens em relação ás mulheres, do patriarcado, do sexismo, do machismo, é de um sistema de desigualdade de classe, de raça e de gênero, atingindo mais as mulheres negras.
A secretária lamenta o fato das políticas públicas de proteção às mulheres, às pessoas com deficiência, aos lgbts, estarem sendo desmontadas. Dos R$ 126, 400 mil da Lei Orçamentária para esse tipo de política, apenas 5% dos recursos federais foram gastos, aplicados.
Espaços de poder: a mulher na política e no movimento sindical
A professora e pesquisadora da UCSAL no Doutorado e Mestrado em Família na Sociedade Contemporânea, Vanessa Ribeiro Simon Cavalcanti, abriu sua fala lembrando que o Brasil teve ao longo da sua República uma única mulher presidente e em Salvador uma única mulher prefeita (em um mandato muito difícil). Quando foram acusadas de corrupção? Nunca foram além do que tinham como prática, como modo de vida, uma conduta coerente”.
Ela também falou da necessidade de ampliação do espaço da mulher na política, com mais candidaturas femininas, “não apenas para cumprir cotas”. A professora ressaltou a utilização das redes sociais como ferramenta de luta e de ampliação das bandeiras dos movimentos socais e das mulheres, “que têm ganhado muita força, em países como Chile e Argentina”.