“Vocês não têm dimensão do orgulho que estou de estar vestindo essa camisa da Petrobrás”, afirmou, aos prantos, o presidente Lula, depois de entregar os crachás da empresa aos trabalhadores que foram readmitidos após 4 anos de luta
[Da comunicação da FUP | Fotos: Palácio do Planalto]
A emoção tomou conta da solenidade desta quinta-feira, 15/08, em Araucária, no Paraná, quando o presidente Lula e a presidenta da Petrobrás, Magda Chambriard, anunciaram investimentos de R$ 4,2 bilhões para reabertura da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados e ampliação e capacitação da Repar para a transição energética.
O evento foi realizado na refinaria, com participação de centenas de trabalhadoras e de trabalhadores petroleiros e petroquímicos, que puderam presenciar uma fala extremamente emocionada do presidente da República, após entregar simbolicamente os crachás da Petrobrás a três dos 215 trabalhadores que recuperaram seus empregos de volta na Fafen. “Vocês conquistaram o direito de voltarem a ser cidadãos de primeira classe, a ter trabalho e a cuidar de suas famílias”, afirmou.
“A gente não está só recuperando uma fábrica de fertilizantes, a gente não está fazendo só investimentos na Repar, a gente está cuidando de recuperar a autoestima deste país, o orgulho do povo brasileiro e o orgulho da gente ser brasileiro, porque o trabalhador, o que vale para nós é ter o emprego garantido, ter um salário justo e cuidar da nossa família com decência e com respeito. É esse o sonho de todos nós”, declarou Lula.
“Os caras que fecharam essa fábrica e que mandaram vocês embora certamente eles nunca ficaram desempregados, eles não sabem o que é um pai de família levantar de manhã e não ter dinheiro para comprar o pão e a manteiga… então, vocês ficarem desempregados quatro anos para eles não interessa nada, vocês são números estatísticos, pois pra mim interessa porque já fiquei desempregado muitas vezes”, enfatizou o presidente da República.
“Esse ato demonstra que o presidente Lula voltou e a Petrobrás também voltou a investir no Brasil e a investir no Paraná. Foram quatro anos de sofrimento desses trabalhadores e dessas trabalhadoras que aqui estão”, destacou o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar, ao lembrar a luta da categoria petroleira para impedir o fechamento da Fafen no governo Bolsonaro. Resistência que teve início com uma greve histórica de 21 dias, em fevereiro de 2020, e permaneceu ao longo de todos esses anos.
“Felizmente não somente esses trabalhadores e trabalhadoras estão retornando hoje. Está retornando também a Petrobrás com investimentos grandes aqui no estado do Paraná”, destacou o coordenador da FUP, referindo aos R$ 3,2 bilhões de investimentos na Repar e R$ 900 milhões na Fafen. “Nós temos um país exportador de commodities da agroindústria brasileira, nós temos um país que a partir da agricultura familiar alimenta o povo brasileiro. Como um país como este dependente de mais de 90% de fertilizantes importados?”, questionou Bacelar, reforçando a importância da volta da Petrobrás ao setor de fertilizantes para garantir a soberania alimentar do país.
Lula chora, ao afirmar o orgulho de vestir a camisa da Petrobrás
O presidente Lula iniciou o seu discurso, quebrando o protocolo da cerimônia, ao afirmar que sua fala não seguiria o roteiro que recebeu. Vestindo o jaleco laranja de trabalhador da Petrobrás, ele não conseguiu conter as lágrimas ao afirmar que é muito grato aos trabalhadores e aos movimentos sociais do Paraná que ficaram ao lado dele no acampamento em frente à sede da Polícia Federal, em Curitiba, durante os 580 dias em que foi mantido arbitrariamente preso. “Vocês não têm dimensão do orgulho que estou de estar vestindo essa camisa da Petrobrás”, declarou, aos prantos, lembrando os momentos difíceis que passou.
“Muitas vezes, eu ficava deprimido e chorava quando ficava sabendo de notícias de que os companheiros, trabalhadores da Petrobrás entravam no restaurante para comer, ou no bar, e muitas vezes eram chamados de ladrão, porque eles (a mídia e a Lava Jato) conseguiram criar no imaginário daqueles que não gostam de nós a ideia de que todo mundo na Petrobrás era ladrão, inclusive aqueles que eram responsáveis pela grandiosidade da Petrobrás, que eram os seus trabalhadores”, revelou, bastante emocionado. “Eu já falei para Magda que eu quero voltar para visitar o prédio da Petrobrás, entrar na sala dela com essa camisa e dizer: a Petrobrás é do povo brasileiro”, afirmou o presidente Lula.
Fafen volta a produzir em maio de 2025, afirma diretor da Petrobrás
O anúncio dos investimentos da Petrobrás no Paraná contou com a participação de toda a diretoria da empresa, de integrantes do Conselho de Administração, de diversos ministros de Estado, de parlamentares, de representações da FUP, do Sindiquímica Paraná e do Sindipetro PR/SC, da FNP, do Sindimont PR, do MST, entre outras entidades e movimentos sociais.
Durante o evento, o diretor de Processos Industriais e Produtos da Petrobrás, William França, anunciou que a produção da Fafen PR foi antecipada para maio de 2025. A previsão inicial era de retomada da operação somente no segundo semestre.
A presidenta da Petrobrás, Magda Chambriard, afirmou que os investimentos, tanto na Fafen, quanto na Repar, irão gerar 30 mil novos postos de trabalho no Paraná, ao longo dos próximos cinco anos. “A missão que o presidente Lula nos passou foi a missão de movimentar a Petrobrás, porque a Petrobrás ajuda a movimentar o Brasil e é isso que estamos fazendo hoje”, afirmou Magda. Ela lembrou que o plano estratégico da companhia contempla investimentos de cerca de 60 bilhões em expansão do parque de refino e cerca de 6 bilhões em fábricas de fertilizantes, nos próximos cinco anos.
“Esses investimentos representam a retomada da Petrobrás ao segmento de fertilizantes”, destacou a presidenta da empresa, ressaltando também a importância dos investimentos no parque de refino para descarbonização dos combustíveis. A Repar, cuja produção é responsável por abastecer cerca 15% do mercado nacional de derivados de petróleo, receberá investimentos robustos para ampliação da capacidade de produção, melhoria da qualidade dos produtos, desenvolvimento de tecnologias para a transição energética e construção de novas unidades de hidrotratamento (HDT) para aumentar a produção de diesel S10, com uma pegada menor de carbono.
Na Fafen Paraná, os investimentos iniciais são para retirar a fábrica da hibernação, o que necessita da contratação de serviços de manutenção e da aquisição de materiais críticos. A intenção é que a fábrica volte a produzir ainda no primeiro semestre de 2025, com capacidade de atender ao menos 8% das necessidades do mercado nacional de fertilizantes.
Ao todo, a operação será capaz de produzir 720 mil toneladas de ureia e 475 mil toneladas de amônia anualmente, além de 450 mil metros cúbicos do Agente Redutor Líquido Automotivo (Arla 32) por ano.
Durante o processo de reativação da Fafen PR, a Petrobrás estima que mais de 2 mil postos de trabalho sejam gerados e que cerca de 700 empregos diretos sejam mantidos após o início das operações.
Esses recursos serão destinados à manutenção e a novos projetos, incluindo a implantação de uma unidade de hidrotratamento de médios (HDT) para aumentar a produção de diesel S10 e melhorias na eficiência energética, visando reduzir a pegada de carbono e aumentar a produção de derivados para atender à demanda do mercado.
Uma luta de quatro anos
A Fafen PR foi fechada pelo governo Bolsonaro, em fevereiro de 2020, levando os petroleiros a realizarem uma greve nacional de 21 dias, a segunda maior da história da categoria. O fechamento da fábrica causou a demissão em massa de cerca de 1000 trabalhadores, sendo 400 próprios e 600 prestadores de serviço.
Desde então, a fábrica permaneceu hibernada, causando prejuízos econômicos à região de Araucária, além do aumento da dependência do país da importação de fertilizantes nitrogenados. Antes do governo Bolsonaro, quando as três fábricas de fertilizantes da Petrobrás produziam sob o controle da estatal, o Brasil importava cerca de 70% dos fertilizantes consumidos no país.
Com a saída da estatal do setor, chegamos a importar 100% dos insumos durante a pandemia da Covid-19. Com o retorno da produção das fábricas da Bahia e de Sergipe, arrendadas no governo Bolsonaro para a Unigel, houve uma ligeira redução das importações, mas o setor agrícola ainda é 90% dependente de fertilizantes produzidos fora do Brasil, apesar do país ser o quarto mercado que mais consome os insumos em todo o planeta.
A reabertura da Fafen PR e o retorno da Petrobrás ao setor de fertilizantes fazem parte da proposta de reconstrução da estatal apresentada pela FUP ao presidente Lula ainda durante a campanha eleitoral e que foi incorporada posteriormente ao projeto de governo para o setor de energia.
O primeiro passo para implementação dessas propostas foi dado no dia 23 de novembro de 2023, quando o Conselho de Administração da Petrobrás aprovou o novo Plano Estratégico, prevendo a retomada da fábrica e a conclusão das obras da Fafen MS.
A FUP e o Sindiquímica PR apresentaram à gestão da empresa um parecer jurídico recomendando a recontratação dos trabalhadores que haviam sido demitidos em 2020, dada a larga experiência e conhecimento que eles têm da fábrica de Araucária.
No dia 17 de abril de 2024, a diretoria da Petrobrás aprovou a negociação dos termos do acordo para recontratação dos demitidos e o início dos trâmites para a retomada da fábrica.
A FUP e o Sindiquímica PR intensificaram as negociações com a Petrobrás para retorno dos trabalhadores, com mediação do Tribunal Superior do Trabalho, que no dia 12 de junho, homologou o acordo coletivo de trabalho da categoria petroquímica.
No dia 05 de julho, a Petrobrás recebeu os primeiros trabalhadores que regressaram à Fafen PR, que estará pronta para voltar a produzir em 2025. Até o momento, 215 petroquímicos das áreas de operação, manutenção e engenharia já retornaram às suas atividades.