Artigo – Os suicídios da Petrobras
setembro 3, 2019 | Categoria: Notícia
Desde que a Petrobras decidiu vender refinarias, terminais e desativar Fábricas de Fertilizantes, vários incidentes ocorreram causando medo na força de trabalho que, além de estar trabalhando para a venda ou fechamento de suas unidades e extinção dos seus próprios postos de trabalho, tem que conviver com a decisão da Petrobras de transferi-los a outros estados desestruturando suas famílias e suas vidas.
Na FAFEN-BA, por exemplo, dados do PCMSO indicam que, em 2018, 12,2% dos trabalhadores e trabalhadoras tiveram afastamentos médicos por depressão ou problemas emocionais, ano em que a Petrobras decidiu fechar as fábricas da Bahia e Sergipe.
A depressão é uma das maiores causas de suicídio no mundo e fatores organizacionais contribuem para o aumento do suicídio no trabalho. A nova ordem da Petrobras orientada a mérito, dilacera o tecido social do ambiente de trabalho trazendo disputa, solidão e estresse. A imposição da Companhia para que seus gestores participem de assembleias e disputem os indicativos sobre o ACT, como nos últimos dias, traz como resultado uma tensão entre a luta pela sobrevivência e o subalternismo expondo de forma desrespeitosa os seus gestores e os trabalhadores sem funções gratificadas e trazendo-lhes angústia.
A instituição do PRVE (Programa de Remuneração Variável dos Empregados) pouco antes do início das discussões sobre o ACT 2019 – 2021 foi mais uma iniciativa da Petrobras para a incitação à violência moral, à competição e ao individualismo em suas unidades. A Petrobras invadiu o espaço de luta com cargos e dinheiro e agora vigia os votos, cobrando a fatura dos assediados. “E o rebanho do pastor Marinho goza sofrendo (ou vice versa)” é cântico do Mundo Livre S/A e diz muito do perfil dos açoitados públicos federais imposto pela Petrobras.
Nas sábias palavras do diretor do Sindipetro-Ba Radiovaldo Costa, “a Petrobras rasgou seu Código de Ética”. Alinhada com o governo federal, a Companhia agora vê o meio ambiente, a vida, a saúde e a segurança como itens secundários de sua bandeira que, longe de ser o lucro, mata pouco a pouco a si mesma até sua completa extinção.
Esse novo paradigma da Petrobras deslocando o valor do trabalho pessoal para a gestão de resultados traz consequências como os derramamentos de óleo da P-53 e P-58 para o mar esse ano, bem como o vazamento de óleo na Refinaria Abreu e Lima essa semana e o vazamento de amonia na última sexta-feira no Polo Petroquímico de Camaçari, na Bahia.
Enquanto observamos a gestão suicida da Petrobras, promovida pelos seus PDM – Portadores de Deficiência Moral, mortes estão ocorrendo em razão de seu desatino doloso. Casos de suicídio envolvendo a Petrobras se avolumam a exemplo de Sadi Paulo Castiel Gitz, empresário que deu um tiro na própria boca, ao vivo, diante do Governador de Sergipe e do Ministro das Minas e Energia, devido à nova política de gás da Companhia e do sádico Programa Gás pra Crescer que o levaram à falência.
O Técnico de Operação Luiz de Paulo Santana pulou do oitavo andar da Universidade Petrobras no Rio de Janeiro em julho/2016 expondo as vísceras de um projeto de autodestruição de uma das maiores empresas de petróleo e gás do mundo.
Não podemos esquecer do suicídio da técnica de operação da FAFEN-BA em 2007 que causou comoção à classe petroleira baiana.
Nos últimos dias mais um petroleiro tenta ceifar a própria vida na Bahia.
É preciso lembrar que o primeiro suicídio causado também pela Petrobras foi o de Getúlio Vargas, perseguido pelo monopólio midiático absoluto e privado de Assis Chateaubriand que não queria a existência da Companhia e colocou isso como condição para o não linchamento moral do presidente nos dois únicos canais de TV do país e em sua revista de meio milhão de exemplares por semana.
Em sua Carta Testamento, Vargas narra a sanha do capital em se apossar das riquezas nacionais:
“Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobras, mal começa esta a funcionar a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada (sic) até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre, não querem que o povo seja independente”.
Daquela vez a Petrobras era minada de fora. Desta, é sabotada pelos próprios gestores matando simbolicamente seus empregados assim como autocídiando-se.
Portanto, é preciso que a Petrobras se perceba inserida nas causas do aumento de suicídios por motivo do trabalho no Brasil;
É preciso que a Petrobras seja mais humana no trato com os trabalhadores e trabalhadoras, a exemplo da força de trabalho das FAFEN`s que vive num momento tão delicado de suas vidas, bem como não os submeta a riscos pessoais num planejamento de hibernação mambembe;
É preciso que o(a) petroleiro(a) se veja como instrumento de sua mudança e do que está à sua volta. Getúlio pagou com a vida e impediu o desmonte da Petrobras um ano depois de sua criação. Nós não precisamos fazer isso. Somos mais úteis lutando e venceremos, e do mal queimaremos a semente.
Nenhum direito a menos é o que tem dito nas assembleias da Bahia o diretor do Sindipetro-Ba Attila Barbosa. Nada a menos, inclusive o direito a vida, a um ambiente de trabalho saudável e à recompensa pelo esforço despendido diariamente nos rincões petrolíferos deste país.
Por eles ou apesar deles, “o petróleo é nosso”…
Jailton Andrade
SINDIPETRO BAHIA