Abertura do X Congresso dos Petroleiros da Bahia – Preocupação com o meio ambiente e crise foram pontos convergentes em debates sobre conjuntura econômica e geopolítica do petróleo
junho 12, 2021 | Categoria: Notícia, X Congresso
O X Congresso dos Petroleiros e Petroleiras da Bahia foi aberto oficialmente na noite da sexta-feira (11), com a presença de várias lideranças políticas, dos movimentos sociais, da juventude e de idosos.
Realizado de forma híbrida, o evento foi coordenado por uma mesa diretora, composta por três diretores da entidade, montada na sede do Sindipetro Bahia. Os convidados, palestrantes e delegados e delegadas do Congresso acompanharam as atividades através da plataforma de videoconferência ZOOM e do canal do Youtube e da página do Facebook da entidade sindical.
O Coordenador Geral do Sindipetro, Jairo Batista, falou sobre o atual momento “difícil e de muita dor” vivido pelos brasileiros. “Um momento que nos deixa abatido, mas, ao mesmo tempo, nos dá força porque sabemos que não há outro caminho a não ser o de fazer o enfrentamento para que consigamos resgatar o Brasil em 2022. Não será fácil restabelecer a ordem democrática para a partir dai reconstruir o nosso país, que está sendo destroçado pelo governo Bolsonaro, mas estamos prontos para vencer este desafio”.
Batista afirmou ainda que o congresso dos petroleiros vai além da discussão das questões corporativas da categoria, “nossa luta é pela soberania, por empregos, direitos e comida na mesa para todos. A partir da defesa do nosso petróleo, dessa energia, espero que, juntos, possamos construir uma vida digna para o povo brasileiro”.
Após a leitura e aprovação do Regimento Interno, que estabelece regras para o evento que acontece até o sábado (12), os convidados fizeram as suas saudações, destacando a importância da luta por uma Petrobrás pública e integrada e a necessidade de ocupar as ruas – utilizando máscaras, álcool em gel e mantendo a distância entre as pessoas – pelo fora Bolsonaro, pela vacina já e o auxílio emergencial de R$ 600,00.
Os congressistas também fizeram uma homenagem às vítimas da Covid-19, prestando solidariedade às suas famílias.
Participaram da mesa de abertura, o Presidente da Confederação Nacional do Ramo Químico da CUT (CNQ-CUT), Geralcino Teixeira (CNQ), a Presidenta da CUT – Bahia, Leninha Oliveira, o Presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Pascoal Carneiro, o Presidente do PT Bahia, Eden Valadares, o Presidente do PT Salvador, Ademário Costa, o Presidente do PCdoB e Secretário do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte da Bahia, Davidson Magalhães, a dirigente do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Leila Santana da Silva, o membro da Coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Moisés Borges, além da militante do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Jacira Araújo, o Presidente da Confederação Brasileira de Aposentados, Pensionistas e Idosos (COBAP), Luiz Tegnani e Sheila Souza, da Coordenação Nacional do Levante Popular da Juventude. A Coordenadora de Fomento, Mineração, Petróleo e Gás do governo da Bahia, Letícia Gouveia, participou do evento representando o governador Rui Costa.
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Palestras
Análise de conjuntura Política, Social e Econômica –
“Está havendo um assalto do capitalismo sobre os bens da natureza”, afirma Stédile
O economista e um dos fundadores do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, afirmou que há uma crise mundial no modo de produção capitalista, que emergiu em 2008 e ganhou força de 2014 para cá.
“Trata-se de uma crise estrutural do capitalismo, com consequências gravíssimas para o nosso país. E o pior: não há luz no fim do túnel”, assegurou.
Stédile analisa que “há um cenário internacional de crise profunda que nos afeta e isso também nos leva à interpretação que as saídas brasileiras não serão apenas a nível nacional, teremos que fazer articulações internacionais, com outros povos, outros governos”, opina.
O economista explica que a crise na economia brasileira fez o Brasil perder uma década. “O PIB per capita deste ano é igual ao de 10 anos atrás. 60 milhões de trabalhadores perderam seus empregos e dificilmente vão encontrar novamente trabalho formal ou se aposentar”.
Stédile afirma ainda que os grandes capitais também estão se apropriando dos bens da natureza e provocando uma crise ambiental. “O lucro da Nestlé no segmento do leite é de 13%, ao ano, porém com a água, a empresa alcança um lucro de 400%. Tanto que vendeu a maior parte dos seus negócios no leite para a empresa Piracanjuba, e vai ficar só na água. O mesmo acontece com a Coca-Cola, que ganha mais dinheiro na água do que no refrigerante. Dentro deste contexto, cabem também os exemplos do minério, da floresta, do petróleo, da biodiversidade em geral. Então, está havendo um assalto dos capitalistas sobre os bens da natureza, o que se configura em um crime porque altera o equilíbrio da natureza e provoca sérias mudanças climáticas”.
Geopolítica do Petróleo –
“Vivemos uma crise histórica do petróleo que pode mudar o papel deste recurso natural no capitalismo e no desenvolvimento mundial”, alerta Gabrielli
O professor doutor José Sérgio Gabrielle, economista e ex-presidente da Petrobras, traçou um panorama sobre a movimentação geopolítica no mundo ressaltando as mudanças nas posições das empresas privadas de petróleo.
Ele descreveu como vem se dando a utilização da produção de petróleo e gás natural como arma geopolítica e também do meio ambiente, que vem sendo utilizada por países distintos.
Para ele “estamos vivendo uma crise histórica e de tamanho inesperado do petróleo que pode mudar o papel do petróleo no capitalismo e no desenvolvimento mundial. Parte desta crise é ambiental e decorre das pressões crescentes contra as emissões de gases de efeito estufa que vêm de uma crescente consciência a partir da Europa, da China e dos Estados Unidos. Nesse contexto, muitas grandes empresas estão sendo forçadas a redirecionar seus negócios”.
Gabrielli também falou sobre o que acontece nos Emirados Árabes, onde o Fundo Soberano Mubadala – que comprou a Refinaria Landulpho Alves, na Bahia – está em um processo acelerado de diversificação das suas atividades petrolíferas, ampliando a sua presença na área petroquímica, em particular na produção de parafínicos. “O fundo tem uma empresa na Espanha, que é uma das maiores produtoras de parafínicos para fins de uso na alimentação, portanto, há uma relação entre esta aquisição, o agronegócio e o investimento no setor de alimentos”, esclarece.
A Refinaria Landulpho Alves é a única do Brasil a produzir o food-grade, uma parafina comestível que é vendida para toda a indústria alimentícia do país e da qual a Mubadala terá o monopólio privado, podendo colocar a produção e conservação de alimentos em risco no país.
Para o economista, “a complexidade da geopolítica do petróleo hoje é muito grande porque envolve atores que estão mudando de posição, envolve também o setor financeiro porque o petróleo é determinante nas bolsas de valores e nos fluxos financeiros dos mercados futuros, mas continua, estrategicamente, como um elemento-chave, de segurança energética, para qualquer país”.
Infelizmente, lamenta Gabrielli, “o Brasil está esquecendo isto e está querendo transformar a Petrobras em uma empresa média, de mercado, deixando de lado o seu papel estratégico”.
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Fonte – Imprensa Sindipetro Bahia