FOTO: Os quatro campos do Polo Marlim produziram 217 mil barris de óleo por dia em média durante este ano (Foto: Agência Petrobras)
Representante da categoria no Conselho de Administração da estatal, Rosangela Buzanelli critica o anúncio de venda de 50% do Polo Marlim, terceiro maior produtor de petróleo do país, que abarca reserva do pré-sal
Por Guilherme Weimann
Na última segunda-feira (16), a Petrobrás anunciou mais uma privatização na Bacia de Campos, localizada na região norte do estado do Rio de Janeiro. O teaser oferece a concessão de 50% dos campos de Marlim, Marlim Leste, Marlim Sul e Voador, que formam o Polo Marlim. Juntos, produziram em média 217 mil barris de óleo e 3.611 metros cúbicos de gás por dia ao longo de 2020, o que coloca o complexo como o terceiro maior produtor do país e o maior da camada pós-sal.
A representante eleita dos trabalhadores no Conselho de Administração da Petrobrás, Rosangela Buzanelli, não enxerga explicação plausível para o anúncio. “O Complexo Marlim é lucrativo, é o maior produtor do pós-sal do país. E por que você coloca à venda? Qual é a lógica? Não faz nenhum sentido. E ainda existe toda uma perspectiva de revitalização dos campos do pós-sal, que deve melhorar o fator de recuperação desses reservatórios, e a produção do pré-sal que ainda está por vir”, aponta.
Quando o Castello Branco aponta a estratégia de focar os investimentos em ativos de classe mundial, a partir de uma traduçãozinha do que ele escutou lá fora por ser um colonizado, ele está se referindo a ativos extremamente rentáveis, com muito volume e retorno no curto prazo.
Para a conselheira, essa notícia demonstra a contradição do discurso do atual presidente da estatal, Roberto Castello Branco. “O discurso do Castello Branco é de que a Petrobrás tem que se concentrar em ativos de classe mundial, ou seja, naquilo que ela domina, que é a produção em águas profundas e ultraprofundas. E aí há uma contradição que a gente aponta, porque os campos de Albacora e do Complexo Marlim estão em águas profundas e ultraprofundas e abarcam o pré-sal”, afirma.
A geóloga questiona o próprio termo “ativos de classe mundial”, propagado constantemente pelo comandante da companhia. “Quando o Castello Branco aponta a estratégia de focar os investimentos em ativos de classe mundial, a partir de uma traduçãozinha do que ele escutou lá fora por ser um colonizado, ele está se referindo a ativos extremamente rentáveis, com muito volume e retorno no curto prazo. Nesse critério dele, apenas se enquadra o pré-sal da Bacia de Santos, excluindo todos os outros ativos da Petrobrás que levaram anos para serem descobertos”, explica.
Para Buzanelli, essa estratégia em curso contém um elevado risco para o futuro da estatal e não encontra precedentes em outras petroleiras mundiais. “Isso é um absurdo, porque estrategicamente se concentrar apenas no pré-sal da Bacia de Santos é um risco muito grande. O que está dominando a Petrobrás hoje é o mercado financeiro e não a produção. E se, por exemplo, der um problema grave em Búzios, onde a Petrobrás está concentrando grande parte dos seus investimentos? Se der um problema de equipamento, se estoura um poço, se tiver que fechar a produção?”, questiona.
Cidades fantasmas
Neste ano, as privatizações tem se avolumado ao longo dos meses. De acordo com levantamento exclusivo da reportagem do Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro-SP), a direção da Petrobrás colocou à venda ao menos 382 ativos durante os seis primeiros meses de pandemia da covid-19. Na lista, estão 53 campos, 39 plataformas, 13 mil quilômetros de gasodutos, 12 unidades de geração de eletricidade e 8 unidades de processamento de gás natural.
No Norte Fluminense não foi diferente. Após uma série de privatizações de campos menores, a empresa anunciou a venda em setembro de 100% da sua participação nos campos de Albacora e Albacora Leste, que juntos têm produção média diária de aproximadamente 70 mil barris de óleo por dia.
Esse movimento tem gerado um esvaziamento de diversos municípios da região e, consequentemente, da diminuição da arrecadação. “Quando você tem redução do efetivo, entrada de empresas privadas, que pagam um salário pior, o comércio também vai ser prejudicado, por exemplo. Macaé, hoje, parece uma cidade quase fantasma. Toda a economia dos municípios da região está sendo afetada”, pontua Buzanelli.
No caso do Polo Marlim, além do anúncio da venda de 50% da sua participação nos campos, a Petrobrás também informou que substituirá nove plataformas fixas próprias pelo aluguel de duas plataformas do tipo Unidade Flutuante de Produção, Armazenamento e Transferência (FPSO), que serão afretadas de duas empresas asiáticas, uma japonesa e outra malasiana. “Essa substituição de plataformas próprias por afretadas já é um movimento para enfraquecer toda a região do Norte Fluminense, pela possível diminuição dos trabalhadores e, consequentemente, da arrecadação dos municípios”, aponta.
Na opinião da conselheira, a tendência atual é de enxugamento e delimitação da Petrobrás, principalmente, à capital carioca. “Hoje, a Petrobrás tem se tornado uma empresa do Leblon. A minha área, que é de exploração, de quem descobre petróleo, já está toda no Rio de Janeiro. Estão deslocando muitos trabalhadores de todo o país para o Rio de Janeiro, o que possivelmente vai gerar redução de quadros, porque não tem espaço para todo mundo”, lamenta.