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Publicado: 22/08/2018 | 2403 visualizações

Após explosão, Replan segue parada

A produção da Refinaria de Paulínia continua parada nesta terça-feira (21/08), sem previsão de normalização. Duas unidades foram afetadas pela explosão e o incêndio, ocorridos no início da madrugada desta segunda-feira (20). Trabalhadores garantem que este foi o pior acidente registrado na história da maior refinaria do país, inaugurada em maio de 1972. 

Uma comissão para investigar as causas da explosão foi instaurada e começou a atuar hoje, com a participação de representante do Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro Unificado-SP). Para a direção sindical, o acidente é resultado do processo de desmonte da Petrobrás, promovido pelo governo de Michel Temer (MDB) para privatizar a empresa. 

A explosão não teve vítimas, mas causou pânico nos trabalhadores. Cerca de 50 empregados próprios e terceirizados executavam serviços nas unidades atingidas. No momento do acidente, ocorrido a 00h51, como mostra um vídeo com imagens internas viralizado no whatsapp, não havia ninguém na área afetada. Era horário do jantar e os trabalhadores estavam reunidos no restaurante.

Outro vídeo, também registrado pelo circuito interno e compartilhado nas redes sociais, mostra uma petroleira passando pela área atingida sete minutos antes da explosão. “Por muito pouco não tivemos uma fatalidade”, afirma o diretor do Sindicato Gustavo Marsaioli.

Além de colocar em risco a vida dos trabalhadores, o acidente também assustou moradores próximos à refinaria e de cidades vizinhas. O barulho da explosão foi tão forte que pode ser ouvido a cerca de 40 quilômetros de distância. 

Morador de Americana, do bairro Vila Omar, o técnico em elétrica Edson Lima contou que acordou com o estrondo, por volta da 1h. “Quando fui sair para o trabalho, encontrei minha vizinha e perguntei se ela tinha ouvido o estouro de madrugada. Só mais tarde é que vi a notícia e soube que tratava-se de uma explosão na Replan”, comentou.

Manutenção terceirizada

A explosão ocorreu em uma unidade de craqueamento (processo que transforma as partes mais pesadas e de menor valor do petróleo em moléculas menores, dando origem a derivados mais nobres, aumentando o aproveitamento do petróleo). O tanque de águas ácidas explodiu, provocando incêndio na área. As chamas de alastraram e atingiram uma unidade de destilação (processo no qual o petróleo é aquecido em altas temperaturas até evaporar, para separação dos derivados, como gasolina, querosene de aviação, diesel e asfalto, entre outros).

O que chama a atenção do Sindicato é que o acidente aconteceu poucos dias após o término de uma parada para manutenção do craqueamento. Pela primeira vez, o serviço foi executado por uma empresa de fora, apenas com trabalhadores terceirizados. O serviço incluiu a manutenção das grandes máquinas, que demandam conhecimento específico e mais qualificado. 

“Historicamente, a manutenção desses grandes equipamentos, que são considerados o coração das unidades, sempre foi feita por mão de obra própria, utilizando-se, principalmente, do acervo técnico e acúmulo de experiência, conhecimento que era passado de trabalhador a trabalhador”, explica o diretor do Unificado Jorge Nascimento.

Parada emergencial

A explosão, seguida do incêndio, causou a paralisação emergencial de toda a refinaria. Hoje, o setor administrativo retomou o serviço, mas a parte de produção continua parada e sem previsão de retorno. 

A Replan tem duas unidades de craqueamento e duas de destilação. Como apenas duas das quatro unidades foram afetadas, a refinaria poderia retomar o processo operacional parcialmente. 

O problema é que várias linhas de tubulação, que passam pelas unidades prejudicadas, sofreram grandes avarias e essa malha é fundamental para o acionamento parcial da refinaria. Sem essas linhas periféricas funcionamento perfeitamente, as duas unidades da destilação e do craqueamento, que não foram atingidas pelo acidente, ficam sem condições de operar.

Sucateamento

O Unificado aponta o processo de desmonte da Petrobrás, com a redução do efetivo mínimo operacional e a precarização das manutenções preventivas, como uma das principais causas de acidentes na empresa. Segundo o Sindicato, o governo golpista quer enfraquecer a empresa para vendê-la a preço de banana. “Há anos o Sindicato vem denunciando essa política da destruição, o sucateamento da Petrobrás e a falta de segurança, que se agravou ainda mais com a redução do efetivo mínimo operacional”, declara o coordenador do Unificado, Juliano Deptula. 

Desde a implantação do estudo de Organização e Métodos (O&M) da Petrobrás, em junho do ano passado, que promoveu o corte no número mínimo de trabalhadores e aumentou as condições de risco, a Replan já sofreu quatro paradas emergenciais. “Grande parte dos trabalhadores afirma que nunca se viu na refinaria um acidente com um potencial tão grande quanto foi este”, alertou Marsaioli.

 

Fonte - FUP