Na última quarta-feira, 30 de maio, a Universidade Federal da Bahia promoveu, no Salão Nobre da Reitoria, a mesa-redonda "Crise, Petróleo e Perplexidade">
Entre os convidados, esteve o diretor do Sindipetro Bahia, Radiovaldo Costa, os economistas e professores da UFBA José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobrás (2005-2012); André Ghirardi, ex-assessor da Presidência da Petrobras (2005-2015); e Luiz Filgueiras, especialista em economia política e economia brasileira contemporânea.
Num discurso forte e caloroso, Radiovaldo Costa expôs para mais de 400 pessoas a real e atual situação da Petrobrás, dos petroleiros e colaboradores envolvidos no processo de desmonte e privatização do sistema. “Companheiros e companheiras, temos travado batalhas intensas desde o início deste ano contra as ações irresponsáveis da gestão do companhia. Desde a zero hora de hoje (30 de maio) a categoria resolveu parar por 72h e como parte do golpe a juíza decretou multa de 500 mil reais por dia para cada entidade envolvida no movimento. Esse é um momento de resistência e vamos continuar, porque mais do que defender os petroleiros e colaboradores, estamos lutando a favor do Brasil e do povo brasileiro”, exclamou e foi aplaudido de pé.
Crítico do atrelamento, adotado por Pedro Parente, do preço do petróleo e seus derivados, no Brasil, à oscilação do produto no mercado internacional, Gabrielli considerou “um desastre, do ponto de vista social” tanto a atual política de preços, quanto as medidas anunciadas pelo governo para reduzir em 46 centavos o valor pago pelo litro do diesel. Ao abrir mão de impostos como CIDE e PIS/Cofins, cujos recursos se dirigem a investimentos públicos e políticas sociais, o governo atuou como um “Robin Hood às avessas”. Gabrielli contextualizou o cenário da greve dos caminhoneiros que parou o Brasil. “Uma luta legítima pelo pão de cada dia e que nos deixou três evidências com o movimento que fez na sociedade: a primeira delas é que o petróleo ainda é muito importante, pois sem a gasolina, sem o diesel e sem o gás de cozinha nós não funcionamos, portanto ele continua estratégico e fundamental. O segundo elemento é a política econômica, que vai levar o país ao desastre social e ao aumento da desigualdade entre a população. E a terceira é que ficou evidente que não há solução para crise econômica e política, em separdo. É preciso mudar do topo”, ressaltou.
André Guirardi explicou a formação dos preços no setor petroleiro, observando que, para conter o endividamento da empresa – algo natural, uma vez que a produção de petróleo demanda um alto volume de investimentos, que obriga a empresa a buscar financiamento externo – o governo Temer nomeou uma diretoria “para fazer gestão financeira”. Assim, para o economista, ao adotar critérios estritamente técnicos para determinar o preço do combustíveis, faltou ao governo fazer a “leitura política do impacto - que os aumentos sucessivos do petróleo teriam sobre a população”. O “desequilíbro do técnico e do político” leva, segundo Ghirardi, a “uma perplexidade muito maior, de natureza quase mitológica: se nós temos tanto petróleo, por que não somos ricos?”, questionou.
Além dele, Luiz Filgueiras, especialista em economia política e economia brasileira contemporânea, discutiu os diversos matizes de “perplexidades” que eclodiram durante a paralisação dos caminhoneiros. “A direita ficou dividida entre a direita neoliberal, que logo ficou contra, porque a greve impacta no superávit primário; e a direita fascista, que quis pongar, e pongou no movimento”, com pautas reacionárias, a exemplo dos pedidos de intervenção militar. “A esquerda também ficou dividida”, observou Filgueiras, entre uma ala “temerosa de um golpe militar”, e outra que aplaudiu a categoria por “denunciar a política de preços da Petrobrás”. “Eu mesmo estava confuso e, depois de muito estudar o assunto, concluí que era correto apoiar” a greve dos caminhoneiros, disse Filgueiras, ainda que o movimento tenha sido, em sua interpretação, “uma greve e um locaute ao mesmo tempo”.
Até o final do debate chegou a informação que a juíza responsável pela multa de 500 mil reais no início da paralisação de 72h, aumentou o valor para 2 milhões por dia de paralisação. “Para quem tinha dúvida, esse ato comprova o saque que estão fazendo na nossa Petrobrás”, finalizou Radiovaldo.
Fonte - Sindipetro