A urgência da reação contra o desmonte do Sistema Petrobrás e da defesa da soberania nacional para o desenvolvimento do país e garantia da igualdade social, foram defendidas na mesa redonda organizada pela Federação Única dos Petroleiros (FUP) e pelo Sindipetro Bahia, no Fórum Social Mundial, que acontece em Salvador, de 13 a 17/03.
O debate, que teve o coordenador do Sindipetro Bahia, Deyvid Bacelar, como mediador, aconteceu na noite da quarta-feira, 14/03, com o tema “O Petróleo como Fonte Indutora de Desenvolvimento Regional”. A pesquisadora do INEEP (Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra) Caroline Vilain, fez uma retrospectiva do desenvolvimento regional no Brasil, abordando a industrialização no país ao longo das décadas, com foco no setor energético. A pesquisadora também falou sobre o papel central das estatais para a industrialização das regiões.
Em sua fala, o coordenador da FUP, José Maria Rangel, citou o discurso feito por João Goulart (Jango), em 13 de março de 1964, na Central do Brasil, pouco antes do golpe militar, “a democracia que eles desejam impingir-nos é a democracia antipovo, do anti-sindicato, da anti-reforma, ou seja, aquela que melhor atende aos interesses dos grupos a que eles servem ou representam. A democracia que eles querem é a democracia para liquidar com a Petrobrás; é a democracia dos monopólios privados, nacionais e internacionais”.
Com o discurso de Jango, Rangel lembrou que a luta por um país igual para todos é perene, por isso “não podemos esquecer um outro golpe, o de 2016. “Hoje temos a mídia, que ataca a Petrobrás tentando passar para a sociedade brasileira que a empresa é corrupta. A Petrobrás está sendo sucateada, não temos mais política de conteúdo local e a estatal não atua mais com responsabilidade social, visa apenas o lucro aos seus acionistas”, pontuou Rangel. Para ele só existe uma saída e ela “passa pela esquerda, pelo levante do povo brasileiro e por não permitir que Lula seja preso, para que possamos retomar o nosso projeto de nação”.
Já o diretor do Sindipetro Unificado de São Paulo, Alexandre Castilho, denunciou a política da atual gestão da Petrobrás, de estrangulamento da produção do refino. A empresa está reduzindo a capacidade de produção do refino e aumentando as importações dos derivados, “com isso a Petrobrás garante o emprego e o desenvolvimento tecnológico lá fora, em outros países, levando o Brasil a um neocolonialismo”. A RLAM, que em 2014 processava mais de 300.000 barris diários de petróleo, hoje refina cerca de 190.000, saindo de mais de 80% para 51% da sua capacidade instalada (Fonte: MME).
Castilho também criticou a direção da empresa que gosta de falar de independência, “não existe independência, ou você é uma estatal que defende a soberania nacional e o desenvolvimento de um povo ou você está a serviço do mercado”. Para ele é preciso resgatar a Petrobrás, mas não só através do movimento sindical, mas com uma luta mais ampla, envolvendo a sociedade, parlamentares e governos.
O petróleo é o eixo do golpe
O diretor do Sindipetro Bahia, Radiovaldo Costa falou sobre a atuação e o desmonte da Petrobrás na Bahia, ressaltando que a estatal sempre teve um papel fundamental no Nordeste do Brasil, “uma região pobre que sempre sofreu discriminação política, até a chegada de Lula à presidência.
Há seis anos, revelou Radiovaldo, “na Bahia havia 45 sondas de produção de petróleo em operação e 14 de perfuração, o que representou a geração de 4 mil empregos diretos e indiretos. Hoje há pouco mais de 19 sondas de produção, “perdemos quase a metade das sondas e em consequência quase a metade dos empregos”.
Radiovaldo denunciou o que o governo golpista está fazendo com a Petrobrás, para ele “o mais perverso processo de privatização da história”. Ele também ironizou os termos usados pela estatal tentando esconder a sua verdadeira intenção, que é a de privatizar, “agora usam o termo hibernar, as atividades passaram a hibernar como os ursos, é o que vai acontecer com a FAFEN, uma empresa que gera mil empregos diretos e indiretos, e que é muito importante no segmento da agricultura familiar, vai ser paralisada.” Para ele “é preciso discutir esse eixo do golpe que é o desmonte da Petrobrás, o ataque à soberania nacional e a perda do controle sobre uma fonte estratégica de energia, que é o petróleo”.