Apesar da chuva fina que caiu sobre o Rio de Janeiro, milhares de manifestantes ocuparam o centro da cidade nesta terça-feira, 03, para protestar contra as privatizações e o desmonte do Estado brasileiro. O ato em defesa da soberania nacional foi convocado pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), pela FUP, CUT, entre outras entidades que integram a Frente Brasil Popular.
A mobilização começou às 11h, na Avenida Rio Branco, em frente prédio da Eletrobrás, uma das estatais que integram o pacote de privatizações anunciado pelo governo Temer. De lá, os manifestantes seguiram em caminhada até a sede da Petrobrás, que completou 64 anos neste 03 de outubro. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerrou o ato por volta das 16h30, com um discurso contundente, em defesa da soberania e de um novo projeto popular para reconstrução do Estado.
“Defender a soberania nacional é defender a dignidade e a honra de um povo”, declarou. “Falar em soberania nacional é ter a coragem de fazer da Petrobrás uma das maiores empresas de petróleo do mundo. É ter feito do Cenpes (Centro de Pesquisas da Petrobrás) o maior centro de pesquisas de uma empresa petroleira durante muito tempo”, completou Lula.
“Não é possível abdicar da Petrobrás, abdicar da indústria naval, não é possível abdicar do BNDES, da Eletrobrás, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal, da Casa da Moeda. A moeda é um dos valores de uma nação. E essa gente está vendendo tudo porque não tem competência”, afirmou o ex-presidente. “A hora que eles venderem tudo, o país estará abrindo mão de instrumentos de fazer política econômica”, avisou.
“A Petrobrás não é apenas um fura-poço”
“A Petrobrás não é apenas uma empresa de petróleo, é um instrumento de desenvolvimento, pois tem milhares de empresas que dependem da Petrobrás, tanto na área de óleo, quanto na de gás. A Petrobrás não é apenas um fura-poço. A Petrobrás é uma empresa de incentivo tecnológico e científico. Por isso que nós investimos em pesquisa, por isso que nós atingimos a autossuficiência, por isso que nós fomos buscar petróleo a sete mil metros de profundidade e fizemos a maior descoberta de petróleo do século 20”, declarou o ex-presidente.
“Esses mesmos que agora estão vendendo a Petrobras, quando a gente descobriu o pré-sal, eles diziam que era impossível a gente explorar o pré-sal”, lembrou Lula, ressaltando que hoje o custo de extração de petróleo no pré-sal é quase o mesmo da Arábia Saudita.
“A Petrobrás não só provou que era possível extrair o petróleo, como provou que do ponto de vista tecnológico não tem nenhuma empresa no mundo mais competente do que ela para prospecção em grandes profundidades. É por isso que eles estão privatizando”, afirmou.
Petrobrás e Lula, uma história de resistência e competência
O coordenador da FUP, José Maria Rangel, ressaltou em sua fala a importância do Estado para o desenvolvimento de uma nação. “Em 2008, quando o mundo inteiro estava em crise, ninguém tinha dinheiro, ninguém tinha emprego, o governo Lula, por uma decisão de política de Estado, fez com que os bancos estatais investissem na Petrobrás e os efeitos da crise foram muito pequenos para o povo brasileiro”, lembrou.
Ao fazer referência aos 64 anos da Petrobras, Zé Maria comparou a trajetória da empresa com a do ex-presidente Lula. “É uma história de luta, de resistência, é uma história de sonho, de realização e é uma história de competência”, afirmou. “A Petrobrás, com a competência de seus trabalhadores próprios e terceiros, conseguiu sobreviver a todas as tentativas de se acabar com essa empresa. E Lula também conseguiu com competência fazer o nosso povo ser feliz”, destacou o coordenador da FUP.
“Um povo não sobrevive sem soberania”
O coordenador nacional do MAB, Joceli Andrioli, saudou a participação de mais de três mil camponeses e militantes que vieram de Norte a Sul do país para o Encontro Nacional que está sendo realizado no Terreirão do Samba, na capital fluminense. “Viemos de tão longe para esse ato em defesa do que é mais sagrado para o povo, que é a soberania nacional. Um povo não sobrevive sem soberania”, afirmou.
Unidade é o caminho
Antes da chegada de Lula, lideranças sindicais e de movimentos sociais fizeram discursos em prol da construção de uma luta unitária para barrar o desmonte do Estado. “A luta, o enfrentamento é o que nos unifica”, afirmou o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas. “Precisamos revogar as medidas do governo golpista e para isso, precisamos unir a esquerda nacional, unir os movimentos. Esse governo não é só golpista, esse governo é entreguista e nós não vamos permitir que entregue as nossas riquezas”, avisou.
O presidente da CTB-RJ, Paulo Sergio Farias, foi na mesma linha. “Nós vamos construir na rua a unidade popular não só para barrar os golpistas, mas para defender um projeto de nação que tenha por foco o desenvolvimento nacional baseado na soberania”, declarou.
João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST, falou pela Frente Brasil Popular e convocou o povo a resistir em uma grande “frente de batalha contra esse governo golpista que quer vender a preço de banana as estatais, como nos ano 90”. Ele aproveitou para mandar um recado aos oficiais que vêm defendendo nas últimas semanas a intervenção militar. “Se vocês dizem que o que querem é a defesa do nosso país, por que não vão fazer uma campanha em defesa da Petrobrás, da Eletrobrás, da soberania nacional?”, questionou João Paulo, avisando que o povo não aceita intervenção militar “porque o momento agora é de intervenção popular”.
Vitor Guimarães, do MTST, representou a Frente Povo Sem Medo e se somou às demais lideranças na construção da unidade em defesa das empresas públicas. “A Petrobrás não se vende, a Eletrobras não se vende, a riqueza do povo brasileiro tem que servir para dar desenvolvimento e não para dar lucro para meia dúzia de empresários e investidores estrangeiros”, afirmou.
FUP | fotos Ricardo Stuckert e Mariana Bomfim