Ao falar nesta manhã para os petroleiros sobre os impactos da reforma trabalhista, o diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, alertou que o desmonte de direitos trabalhistas e conquistas sociais em curso no Brasil faz parte da mesma agenda de redução do Estado e de desnacionalização dos setores produtivos, que foi retomada pela direita, através do golpe, e que não é restrita ao nosso país. Segundo ele, levantamento recente da OIT (Organização Internacional do Trabalho) aponta que, além do Brasil, já ocorreram 642 mudanças de legislações trabalhistas ao redor do mundo nos últimos anos, afetando trabalhadores em 110 países.
Sua exposição fez parte do painel “A conta do golpe quem paga é o trabalhador”, que abriu os debates do XVII Confup neste sábado, em Salvador. Para o técnico do Dieese, é preciso que os trabalhadores e suas organizações entendam que estão diante de um processo global, fruto da mudança do modelo capitalista, onde o capital financeiro vem se apropriando dos setores produtivos. “Precisamos entender que a deposição da presidente Dilma faz parte deste jogo”, declarou Clemente, alertando que “sempre que elegermos alguém que é contrário a esse sistema, ele será colocado para fora”.
No Brasil, os ataques são ainda mais devastadores, em função da desnacionalização de setores estruturantes, como o do petróleo e do sistema elétrico. “Não há caso no planeta onde uma economia que reúna tanto recursos esteja sendo entregue ao capital financeiro internacional, através de uma desnacionalização sem precedentes”, afirmou o técnico do Dieese.
Ao falar sobre os impactos da reforma trabalhista, Clemente destacou que as 317 mudanças feitas na CLT alteram o conceito básico da legislação, que deixa de proteger os trabalhadores e passa a proteger os empresários. “As empresas terão na legislação uma estrutura capaz de lhes permitir adequar os contratos de trabalho aos seus custos”, explica o diretor do Dieese, destacando que a reforma trabalhista “criou instrumentos” para evitar passivos trabalhistas, além de precarizar as condições de trabalho, enfraquecer a representação sindical e até mesmo inviabilizar a existência dos próprios sindicatos.
“Nesta conjuntura e neste enquadramento da legislação, os trabalhadores terão que repensar as campanhas salariais”, alertou Clemente, afirmando que “daqui pra frente o salário não é o principal ponto da pauta” e que, no caso dos petroleiros, vai crescer a terceirização e a desnacionalização dos ativos, o que por si só já alteram toda a convenção coletiva. Para ele, é preciso que as organizações sindicais tenham uma estratégia de enfrentamento que questione essas reformas em todos os espaços, “do chão da empresa ao judiciário”.
Mas, o fundamental, segundo o diretor do Dieese, é construir uma ampla unidade, com estratégias de “negociação intersindical”, envolvendo várias categorias e frentes de ações conjuntas. “A história mostra que, em momentos dramáticos como este, de disputas essenciais, como já fizemos no início do século passado, no pós-guerra, nossa força está na nossa unidade. Não há outro recurso capaz de fazer o enfrentamento que não seja a capacidade de construir a unidade da classe trabalhadora”, afirmou.
Fonte: FUP |Fotos: Diego Villamarin