Uma greve vitoriosa que fortaleceu e uniu a categoria petroleira. Assim pode ser definida a greve que começou no dia 30/06 e foi encerrada, nesta quarta-feira, 05/07, na RLAM. O movimento paredista, que aconteceu em nível nacional na área de refino da empresa, durou cinco dias na Refinaria Landulpho Alves, na Bahia.
Para marcar o fim do movimento, após a assembleia , petroleiros e petroleiras dispensaram os ônibus e resolveram, ao som do Hino Nacional, caminhar do local do piquete até a entrada principal da refinaria.
A decisão de suspender a greve foi tomada após seguidas vitórias do Sindipetro Bahia, através de sua assessoria jurídica, que conquistou na Justiça do Trabalho, liminar determinando que a Petrobrás cumpra o ACT da categoria, ficando suspensa assim a redução do efetivo mínimo de referência. De acordo com a sentença, a Petrobrás tem um prazo de 30 dias para “trazer aos autos, os estudos em que definiu os parâmetros para redução implementada no efetivo mínimo, sob pena de multa diária de R$ 10 mil até o efetivo cumprimento da obrigação”.
Conquistas judiciais fortaleceram o movimento
A decisão da juíza Marlúcia Leonesy da Silveira, da 28° Vara do Trabalho de Salvador, vale para todas as unidades operacionais do Sistema Petrobrás na Bahia.
Outra grande vitória foi o habeas corpus, também conquistado pelo Sindipetro, que garantiu a liberação dos que estavam sendo impedidos pela gerência, de sair da empresa, após o seu turno.
É importante destacar ainda a visita à RLAM de dois auditores do Ministério do Trabalho e Emprego, na terça-feira, 04/07. Eles puderam verificar a veracidade da denúncia do Sindipetro Bahia em relação ao cárcere privado, “de que havia pessoas que estavam sendo coibidas a ficarem dentro da refinaria contra a sua vontade”. Pelo menos 37 trabalhadores enviaram para as suas gerências, com cópia para o sindicato, suas solicitações de saída.
Em relação à liminar, o coordenador do Sindipetro Bahia, Deyvid Bacelar, afirmou que a decisão da justiça coloca em cheque o estudo que foi feito pela Companhia, ressaltando que “está se comprovando que a avaliação de tempos e movimentos em uma atividade como a dos petroleiros nas áreas operacionais não se aplica. A Petrobrás não é uma linha de produção da FORD, temos aqui atividades complexas, feitas de formas diferenciadas nos turnos, e com procedimentos diversos”.
Para o assessor jurídico do Sindipetro Bahia, Clériston Bulhões, “a decisão da juíza, em verdade, enaltece a força do Acordo Coletivo e do pactuado, pois a empresa não pode descumprir o que assinou, desrespeitando os sindicatos, legítimos representantes de seus empregados”.
Gestão da segurança coage inspetores
O diretor do Sindipetro, André Araújo, falou sobre a importância dos petroleiros participarem mais das mobilizações, “o que ajudaria na redução do custo da logística e infraestrutura montadas para realizar uma greve como essa”. Ele também convidou a categoria a fiscalizar a entidade e acompanhar a forma como está sendo utilizado o dinheiro dos associados.
Araújo ainda falou sobre a importância dos inspetores de segurança patrimonial participarem dos movimentos paredistas, pois são trabalhadores como os demais e possuem o direito de greve. Infelizmente, “a gestão da segurança coage e ameaça os inspetores querendo utilizá-los como repressores do movimento sindical”, lamenta. Ele afirmou que a direção “não mais aceitará essa lógica retrógrada e ditatorial da gerência da segurança e vai garantir o exercício do direito de greve por parte dos inspetores”.
O presidente da CUT Bahia, Cedro Silva, defendeu que a Petrobrás volte a ser uma cadeia produtiva para o país. Para ele “sem a estatal o futuro do Brasil será ainda mais sombrio”. Ele também parabenizou a categoria pela greve vitoriosa.
O diretor recém-eleito, Miguel Ferraro, enalteceu a união da categoria nessa greve. Já a também recém-eleita, Christiane Petersen, lembrou que a luta dos petroleiros é mais ampla e “que precisamos participar das caminhadas, atividades e mobilizações para garantir o futuro do Brasil, que hoje, nas mãos de um governo golpista e entreguista, está sob ameaça”.
Pelego comparado a capacho
O desespero da gerência da RLAM com o alto nível de adesão à greve foi tanto que eles exportaram cinco pelegos da REVAP, dois da REDUC, dois da RPBC e um da REPLAN, para operar as unidades. Os pelegos foram rechaçados pelos trabalhadores que estavam na empresa. Muitos não conseguiram nem trabalhar.
Os trabalhadores foram unânimes ao afirmar, na assembleia, que pelegos “voadores”, ou não, terão o que merecem, que é o desprezo da categoria, ressaltando em alto e bom som que “para esses não haverá perdão”. O diretor do Sndipetro, recém-eleito, Ivo Saraiva lembrou que “essa luta é coletiva e que não é possível, que pessoas, de forma individual, se coloquem contra a vontade e decisão da categoria”. Ele também ressaltou a boa adesão à greve que se deveu em parte “ a uma boa estratégia de comunicação.
O também diretor eleito para a nova diretoria do sindicato, Edson Cabeça, parabenizou todos os petroleiros e petroleiras, em especial àqueles que se sacrificaram, ficando noites sem dormir, expostos ao frio no piquete. Ao contrário, dos pelegos “que deveriam sentir vergonha, pois esses, com certeza, não vão deixar para os seus filhos o mais importante, que é o legado da honra”.
Para Deyvid com a importação de pelegos, a Petrobrás descumpriu a lei de greve, que proíbe a substituição do trabalhador que está participando de um movimento paredista. Segundo ele o saldo mais positivo da greve foi o fortalecimento da categoria, e também o sentimento de união que esteve presente durante todos os dias do movimento.
O êxito da greve levou a categoria a rebatizar o local onde foi montado o piquete, antes conhecido como “rótula do bota fora”, passa a ser chamado de “rótula da vitória”
Participaram também da assembleia os diretores do sindicato, Gilson Sampaio (Morotó), Jairo Batista, Agnaldo dos Anjos, João Marcos, George Arleo, Luciomar Vita, Climério Reis (Mero), Eliú Evangelista, Gilberto Silva, Adailson Batista, Sinvaldo Costa (Pelé), Ariosvaldo Lima, Emanuel Silvestre e o delegado sindical José Batista (Serrinha). Além de representantes do Sitticcan e Sindicato dos Rodoviários.