Não foi surpresa a edição tímida, triste, desenxabida, do Jornal Nacional sobre o depoimento de Lula a Moro em Curitiba.
Não foi surpresa que os bonecos falantes da GloboNews tenham recebido os vídeos um minuto após o encerramento e que e não tenham conseguido achar um argumento minimamente decente para uma tese pré-concebida: que Lula “se complica cada vez mais”.
O dia foi de Lula nas ruas e nas dependências do prédio da Justiça Federal.
Suas considerações finais são antológicas. Uma aula de política.
No epílogo das cinco horas de testemunho, Lula pediu a palavra e prensou Sergio Moro nas cordas.
Cobrou as provas, “pelo amor de Deus”, e não as ilações de sempre.
Falou do neto de 4 anos que sofre bullying. Mencionou a mulher, Marisa.
E denunciou o esquema de vazamento da Lava Jato — com provas e convicções, ao contrário de seus julgadores.
Mostrou a quantidade de vezes em que o Estadão, a Folha, o Jornal Nacional e a imprensa amiga deram matérias “exclusivas” (as aspas são minhas) contra ele, todas oriundas daquele juízo.
“Os jornais têm mais informação do que os meus advogados. Só no JN foram 18 horas contra mim”, afirmou, ajeitando a gravata.
Moro negava o inegável, ou seja, sua parceria com os jornais, TVs e revistas, estratégia confessada em sua famosa tese sobre a Operação Mãos Limpas.
A negação ficava mais absurda diante do que acontecia ao vivo do lado de fora: a repórter da GloboNews dava detalhes sobre o encontro, como a quantidade de vezes em que Lula bebeu água e quanto tempo faltava para acabar.
Já a mulher de Moro, que tem uma página no Facebook dedicada ao marido, confirmava para o site de extrema direta Antagonista que o super heroi “levou marmita” (!?!).
Juiz mentindo no tribunal é perjúrio?
A alturas tantas, a voz fina meio alquebrada, Moro se pôs na defensiva.
— Agora, o senhor tem essas reclamações da imprensa, eu compreendo, mas esse realmente não é o foro próprio pro senhor reclamar contra o tratamento da imprensa. O juiz não tem nenhuma relação com o que a imprensa publica ou não publica e esses processos são públicos, falou.
— Doutor, o senhor sem querer, talvez, entrou nesse processo. Sabe por quê?, perguntou o interlocutor.
— Hum?
— Porque o vazamento de conversas com a minha mulher e dela com meus filhos foi o senhor que autorizou.
Adiante, olhando para os procuradores, Lula reclamou do baixo nível dos questionamentos.
Lula deixou seus inquisidores nus, incluindo os cúmplices. Colocou-os no banco dos réus, numa inversão de papeis espetacular.
“Eu espero que essa nação nunca deixe de acreditar na Justiça”, foi seu último apelo.
Na saída, imergiu em seu elemento, os braços do povo e da democracia, rumo a 2018, deixando seu Torquemada reduzido a pó de traque e numa sinuca de bico de dar gosto.
Fonte: Diário do Centro do Mundo.