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Publicado: 24/10/2016 | 371 visualizações

Petrobras e sindicatos travam guerra ideológica por apoio de funcionários

RIO DE JANEIRO, 19 Out (Reuters) - A alta cúpula da Petrobras e os sindicatos têm travado uma disputa de ideias por apoio dos petroleiros, enquanto a empresa busca evitar uma prolongada greve que vem sendo planejada diante do descontentamento com o programa de venda de ativos da companhia e da proposta de reajuste salarial abaixo da inflação.

Sindicalistas falam em "guerra ideológica" encabeçada pelo presidente-executivo da Petrobras, Pedro Parente, e dizem até que a empresa mudou sua forma de se comunicar com empregados, imprensa e sindicatos, como forma de buscar apoio para seu plano de negócios, que inclui a meta de desinvestimentos de US$ 34,6 bilhões entre 2015-2018.

Além de cartas enviadas por e-mail, assinadas pelo executivo usando apenas o primeiro nome, Parente tem respondido questionamentos enviados por funcionários pela rede interna da empresa e realizado encontros presenciais para responder perguntas, numa exposição atípica para um presidente de uma empresa como a Petrobras.

Em geral, o presidente busca apoio dos funcionários para implementar mudanças consideradas cruciais pela atual gestão para recuperar a saúde financeira da companhia, cuja dívida líquida encerrou o segundo trimestre acima de R$ 330 bilhões.

Dando atenção pessoal muitas vezes, Parente ainda explica aos trabalhadores declarações feitas à imprensa e medidas tomadas em outras esferas.

"O processo de comunicação que a empresa está fazendo é coisa de guerra mesmo. Está tentando estabelecer um vínculo de aproximação da alta administração com os trabalhadores", afirmou o líder sindical Deyvid Bacelar, que foi representante dos empregados no Conselho de Administração da Petrobras em 2015.

Os sindicatos argumentam que a venda de ativos não é a única forma de reduzir a dívida da empresa, principal motivação da atual gestão, e protestam contra a decisão da companhia de sair de diversos setores, como o de biocombustíveis.

Em entrevista à agência de notícias Reuters, no mês passado, Parente afirmou que a gestão da empresa tem sido muito respeitosa e transparente com sindicatos e funcionários, e que espera uma contrapartida. 

Sem ofensas

Em uma das manifestações de Parente na intranet da empresa, segundo documentos enviados à Reuters por Bacelar, o executivo explicou por que afirmou em uma reportagem que "houve um endeusamento do pré-sal", após um questionamento publicado pelo empregado.

"Hoje dispomos de um conjunto de informações inigualável sobre o pré-sal, e sabemos que, embora lá existam campos excepcionais e ela seja uma das melhores províncias do mundo, o fato de que um campo se situar no pré-sal por si só não garante a sua excelência", afirmou Parente, no canal interno.

Na mesma manifestação, Parente também explicou por que afirmou em uma entrevista que não poderia conceder "generosos aumentos" aos seus funcionários. Ele havia declarado que entre 2003 e 2014 a empresa concedeu aumentos superiores à inflação e dito que a situação financeira da empresa não permitiria isso agora.

"Lamento que a expressão tenha lhe ofendido, não é a minha intenção ofender ninguém", afirmou o presidente-executivo da Petrobras, na mensagem obtida.

Procurada para comentar o tema, a estatal não se manifestou.

Greve à vista

Legalmente, os funcionários já podem iniciar a paralisação, uma vez que aprovaram em assembleias, no mês passado, o estado de greve. Entretanto, uma data ainda não foi marcada.

"A greve neste ano é inevitável, mas ela está sendo construída para que no momento adequado possamos deflagrar. O horizonte ainda não temos definido, tanto estrategicamente quanto por conta da necessidade de maior conscientização (dos funcionários)", explicou Bacelar.

Além de traçar estratégias, os sindicados trabalham em parceria com outras categorias, com o objetivo de organizar uma greve nacional, contra o governo de Michel Temer, e diversas medidas que estão sendo tomadas por ele, como a aprovação do teto de gastos, conforme explicaram sindicalistas à Reuters.

Após a forte rejeição da proposta de acordo coletivo de trabalho feita pela Petrobras --que incluía reajustes bem abaixo da inflação e um corte de pagamentos de horas extras e turnos de trabalho regulares-- a empresa marcou uma nova reunião com os sindicatos para esta quarta-feira.

A proposta também chegou a ser explicada, por meio de uma carta aos funcionários, pelo diretor-executivo de Recursos Humanos, SMS e Serviços, Hugo Repsold, que, por sua vez, também assinou com o primeiro nome e encerrou a mensagem com um apelo aos empregados: "Esse é o momento de buscar entendimentos, garantir as nossas receitas em sua plenitude e não fechar os canais de diálogo. Não temos lado. Somos 'TODOS' empregados da Petrobras, com firme compromisso em recuperar a empresa."

Entretanto, a maior reclamação dos empregados é sobre a venda de ativos da companhia, acompanhada da necessidade de reduzir a força de trabalho.

"A gente sabe que a venda de ativos é uma falácia para privatizar a Petrobras", afirmou o secretário-geral da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), que representa cinco sindicatos de funcionários da Petrobras, Adaedson Bezerra.

Em declaração recente, Parente afirmou que toda vez que a empresa fizer uma parceria ou desinvestimento, haverá um plano de demissões voluntárias. Quase 12 mil empregados tinham aderido a um PIDV até o início de setembro. 

Já o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), que representa 14 sindicatos, José Maria Rangel, afirmou que os sindicatos estão se movimentando para ganhar mais força, diante da nova estratégia da Petrobras.

"A empresa está mudando, eles têm feito um trabalho de comunicação direto com empregados, com cartas, a nós não cabe reclamar, temos que de fato trabalhar para tentar neutralizar essa forma de agir da companhia", disse Rangel.

 

Fonte: UOL Economia